Por Marcelo Ramos:
Hoje quero fazer um desabafo. Tivesse eu um marqueteiro, ele enlouqueceria com o que vou escrever. Há coisas que políticos podem até pensar, mas não podem dizer, sob o risco de perder votos. Eu prefiro perder votos a perder a vergonha.
Para mim, o exercício da atividade legislativa exige independência, retidão de conduta, dedicação ao trabalho, honestidade e ética. Sem esses requisitos faltará ao parlamentar condições para o cumprimento do seu dever constitucional de legislar e fiscalizar os atos do Poder Executivo.
Tem me incomodado o crescimento de uma cultura que fez o povo olhar para o político como doador de equipamento, patrocinador de formatura ou intermediador de emprego.
Não dá! O parlamentar que vive de pedir emprego ou favores ao governante não tem a necessária independência para fiscalizá-lo. É um ou outro. Ou vive só do salário ou paga formatura! Ou é independente ou pede vaga de emprego para os governantes!
Vivo exclusivamente do meu salário de deputado. É um bom salário, mas, por certo, menor que o salário de um médico ou juiz. Nem por isso você pede ajuda para sua formatura ao juiz que julgou uma causa sua ou pede ao médico que lhe curou de uma doença para doar equipamento pro seu time.
Desculpem, eu não sou pago pra fazer favores ou filantropia. Sou pago para representar o povo, legislar e fiscalizar os atos do Executivo. Quanto a isso, tenho a consciência tranquila de cumprir o meu dever.
Meus atos de caridade são feitos como cidadão, sem qualquer vinculação política e sem qualquer publicidade, porque pra mim ações solidárias movidas por boa intenção e amor ao próximo são segredos entre você, o beneficiário e Deus.
Sei que pode ser difícil para muitos ler esse desabafo. Mas prefiro a incompreensão de alguns a covardia de calar-me diante de um desvio de conduta de parcela dos eleitores que tão mal faz a política, empurrando, algumas vezes, homens de bem para o asssitencialismo ou derrotando os que não se sujeitam a essas “regras”.