Por Marina Silva
O resultado da COP-17, a Conferência da ONU sobre Mudança Climática, finalizada na semana passada em Durban, África do Sul, tem sido comemorado e lamentado.
A comemoração se baseia numa decisão que é, de fato, uma promessa. A de que até 2020 todos os países terão suas metas de redução das emissões de gases-estufa capaz de manter a elevação da temperatura do planeta na faixa de segurança dos 2°C até o final do século.
A lamentação vem do fato de que os países ignoraram a realidade e os alertas da ciência, que mostram que já sofremos com as mudanças climáticas. E, assim, nenhuma decisão concreta foi tomada para ampliar os tímidos esforços de redução das emissões, que seguirão crescendo até 2020. Vamos ficar quase uma década à espera de uma promessa!
Nesse limbo, a sociedade continua refém de uma política que se isola da vida: empobrecida, burocratizada e sem estadistas. Verdadeiros líderes são os que se apresentam nas crises, que se dispõem a ajudar a sociedade a fazer o que precisa ser feito, em nome do bem comum e dos mais nobres valores humanitários. E uma política sem estadistas interessa a quem não quer mudanças.
Quantos presidentes ou chefes de Estado estiveram em Durban? Quantos dão importância ao tema em suas agendas? Infelizmente, a discussão da crise climática perde para assuntos menores. O exílio da ciência, a domesticação dos políticos e a burocratização das negociações são a melhor forma para se perpetuar a mediocridade no âmbito multilateral.
A COP-17 representa esse retrocesso. Decidiram postergar as ações, as responsabilidades, e continuar condenando os mais pobres e vulneráveis a pagar a maior parte da conta, com suas vidas e esperanças. Em vez de agir, os países debaterão por quase uma década. Serão anos preciosos investidos em discussões nas quais interesses econômicos continuarão influenciando, impondo ganhos marginais ao processo.
Retrocesso ainda com o recuo dos compromissos dos países ricos, com o abandono do Protocolo de Kyoto por parte do Canadá, do Japão e da Rússia. E os EUA ganham quase uma década a mais de inação.
As próximas COPs, se continuarem apenas com negociadores e diplomatas, por mais comprometidos que sejam, correm o risco de ser ainda mais pobres política e cientificamente. Cria-se a condição para blindar os que não querem ser expostos ou constrangidos.
Como bem questionou Viriato Soromenho-Marques, da Universidade de Lisboa: “Como foi possível que a sociedade tecnológica e cientificamente mais avançada que o planeta já conheceu corra o risco de chegar demasiado tarde àquela incerta encruzilhada que separa a estrada da crise daquela outra que conduz ao colapso?”.