Criou-se uma certa mitologia sobre os debates na TV entre candidatos a presidente.
Os fatos e os estudos realizados não comprovam a importância eleitoral deles.
O primeiro debate na TV, que passou a ser uma referencia como ponto de partida, foi o debate entre Kennedy e Nixon em 1960. Nele, a equipe de Kennedy inaugurou os cuidados visuais com o debate, desde o melhor contraste entre o cenário e a roupa do candidato, a cor do terno e da gravata, até o sorriso leve de quem está seguro no que diz. No final até as pesquisas escorregaram e Kennedy venceu por uma diferença mínima de 120 mil votos. Explicou-se pela “maioria silenciosa”, o que seria o mesmo que dizer que não houve influência do debate no resultado final.
Várias análises mostram que, a menos que ocorra um total desastre num debate, no máximo três dias depois o efeito do debate já está dissolvido.
Por isso, nos EUA, o último debate nunca ocorre em intervalo menor que 10 dias das eleições. Esta também é a praxe na Europa. Na América Latina -e o Brasil não é exceção- esse prazo de mais de 3 dias não é observado.
O debate é apresentado como um grande espetáculo pelas emissoras de TV. Os candidatos são estressados com técnicas e táticas, caras e bocas, planejamento de perguntas e respostas, imersão para testar como reagem sob pressão.
Equipes vão aos estúdios conhecer o cenário, de forma a definir o figurino dos candidatos. Discute-se com as emissoras de TV o posicionamento das câmeras, que não podem flutuar pela reação de um candidato enquanto o outro fala.
A audiência cresce, o que em si já é uma excelente consequência para a emissora de TV que o promove.
Quando termina o debate, são feitas pesquisas sobre vitorioso e derrotado. A menos que a eleição esteja muito apertada, o resultado é sempre o mesmo: venceu o debate o que vinha como favorito nas pesquisas eleitorais.
Mas nem por isso tudo o debate na TV é inócuo. Curiosamente é mais importante pela repercussão que lhe dá a imprensa nos dias seguintes que pelo debate em si. Imagens do debate são editadas na TV. Fotos nos jornais, áudio nas rádios. Analistas comentam. Publicitários são entrevistados.
Os eleitores, em função disso, discutem performances. Os militantes se entusiasmam e destacam os melhores momentos de seus candidatos e os piores de seus adversários.
Gafes são exaltadas. Todo um processo desencadeado pelo debate na TV e que ganha vida independente do debate.
Se fosse possível fazer o debate e nada mais, os debates seriam rigorosamente inócuos. Mas seus desdobramentos não são. Nesse sentido cabe preparar os “exércitos” para os dias seguintes ao debate. Esses podem ser relevantes.