Em julho de 1997, a crise asiática abalou as finanças mundiais, ampliada em agosto de 1998 pela crise russa. As consequências econômicas são bem lembradas, mas as consequências políticas, não.
Na América Latina, Venezuela, Argentina e Brasil produziram uma reversão do quadro político. Na Venezuela, o ministro Teodoro Petkoff (Planejamento), que geria o país dada a idade do presidente Rafael Caldera, criou uma forte expansão econômica no início de 1997, preparando a sucessão do presidente.
Hugo Chávez vinha lá atrás, com uns 5%. Veio a crise asiática e a economia venezuelana naufragou. O barril do petróleo chegou a US$ 11. Da expansão estimulada por Petkoff à queda do PIB após as crises, a economia variou 20% do PIB.
Chávez criou, em 97, o Movimento V República (MVR) e depois surfou na onda das crises. Venceu a eleição. Os desdobramentos são conhecidos.
Na Argentina, as crises levaram a uma tranquila vitória da oposição, somando centro à esquerda. Fernando de la Rúa foi eleito em 1999. O nó dado pela conversibilidade radical de Carlos Menem produziu o paraíso, e depois o inferno.
Em dezembro de 2001, De la Rúa renuncia e foge do palácio de helicóptero. Três presidentes assumem e renunciam. Eduardo Duhalde, que perdeu a eleição, assume até a vitória de Néstor Kirchner.
Kirchner trouxe como antecedente a mudança da legislação da Província de Santa Cruz, que, em 1998, autorizou reeleições ilimitadas. Eleito em abril de 2003, ele refunda um populismo peronista e cria o artifício da sucessão da esposa para sua futura reeleição. Mas, em 2010, morre antes disso. Deixa Cristina como herdeira e favorita para a eleição deste ano.
No mar manso do Plano Real, e no início do governo, FHC aprova a reeleição, mudando as regras do jogo no meio do campeonato. Em 1997, responde à crise com o pífio pacote 51, apelido dado pela mídia. Em meio à turbulência, acentuada em 1998, faz a campanha exaltando os riscos que viriam se Lula vencesse. Deu certo. Venceu no primeiro turno.
As repercussões da crise foram multiplicadas pelo populismo cambial e fiscal, aplicado na eleição. Governou sob agitação econômica.
A seriedade das medidas resgatou a condução da política econômica, mas afundou a sua popularidade. O risco Lula, em 2002, agravou os problemas, com os preços e os juros explodindo.
Lula venceu e jogou a carga dos problemas para trás. Manteve as políticas de FHC, flutuou num quadro internacional favorável e abriu um ciclo de pelo menos 12 anos, algo inimaginável antes das crises de 1997 e 1998. Crises que explicam o quadro latino-americano atual e os erros de gestão política e econômica de países, fulcrais para o continente.