Após tomar posse como a primeira presidenta do Brasil, Dilma Rousseff irá se debruçar sobre os desafios dos próximos quatro anos. São muitos e profundos: acabar com a pobreza extrema, fazer o país seguir crescendo com distribuição de renda e geração de empregos, organizar um amplo sistema de 500 UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento), qualificar a Educação, modernizar nossa infraestrutura e conduzir as reformas política e tributária —só para citar algumas prioridades.
O momento é positivo. Temos a perspectiva de que, com ajustes pequenos de rumo e ação, o crescimento do PIB se mantenha em torno de 5,5% nos próximos anos, bem como a geração de emprego e renda.
Será necessário debater com a sociedade e o Congresso Nacional o voto distrital puro ou misto, votação em lista, financiamento público das campanhas —importante para combater a corrupção—, fim da reeleição com mandato de cinco anos, unificação das eleições, entre outras propostas.
Na esfera da governabilidade, o cenário, a princípio, é de maior tranquilidade do que o vivido por Lula —mesmo sabendo das pressões que virão da mídia e da oposição. O fato, no entanto, é que o governo ampliou a maioria na Câmara e, acima de tudo, no Senado, principal trincheira das forças conservadoras entre 2003 e 2010.
O fracasso eleitoral revelou que a oposição radical não é o que a sociedade quer: as novas lideranças falam em “refundação” do PSDB e até em extinguir o DEM. Dilma já declarou que quer manter um relacionamento pacífico e republicano com todas as forças políticas, porque essa é a única maneira de encarar problemas estruturais sérios como, por exemplo, a Saúde pública.
Não apenas o plano de ajudar Estados e municípios a instalar 500 UPAs pelo Brasil, mas qualquer outro projeto dependerá de rediscutir as fontes de financiamento da Saúde, problema que aguarda solução desde que a oposição trabalhou para derrubar a CPMF.
Ajuda que a presidenta tenha expectativa tão positiva: de acordo com o Datafolha, um terço do país (30%) acredita que o governo será melhor que o do presidente Lula. Para 73%, Dilma fará uma gestão ótima ou boa, marca próxima do padrão histórico dos presidentes anteriores, na casa dos 70% —à exceção de Itamar Franco, empossado em meio a instabilidades políticas, e Fernando Henrique Cardoso em seu segundo mandato (41% de expectativa positiva).
É possível que Dilma tenha de atuar politicamente contra governadores quando iniciarem as discussões sobre a reforma tributária, especialmente em relação à incidência do ICMS. Ainda assim, reorganizar a burocracia tributária é condição sine qua non para que cheguemos ao objetivo de sermos a 5ª economia mundial em 2020.
Sem dúvidas, as inúmeras adversidades que se apresentarão têm amplas condições de serem superadas. Pela bagagem que acumulou em sua trajetória política, em especial como excelente gestora no Ministério de Lula, mas também como candidata, é de se esperar que Dilma tenha desempenho exemplar nessa missão. Desejo sorte e sucesso à nossa querida presidenta!
José Dirceu, 64, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT