Artigo publicado originalmente no Blog do Noblat:
Dentre as inúmeras mudanças que ocorrerão na vida de todos nós, dos políticos, da Presidente Dilma e do Presidente Lula, a partir de 1º de janeiro, uma fundamental não suficientemente destacada é a seguinte. A exposição da mídia de Lula que antes era de 100 cai para 20 ou trinta. É natural. Nestes anos todos Lula pautou a mídia por pelos menos três motivos: o cargo, as realizações e o estilo de ser presidente. Nenhuma delas prevalecerá agora.
O ex-senador José Jorge Vasconcellos chegou a dizer que o estilo excessivamente informal de ser Presidente na mídia, opinando às vezes com inusitadas perspectivas, gírias, emoções excessivas e à vontade, isto é, “à volonté” como dizem os franceses, nada mais eram do que uma sutil maneira de pautar o Jornal Nacional. Fosse sua intenção ou não, conseguiu. O que para uns parecia uma ridícula maneira de ser presidente, para outros era apenas a eficiente construção de uma intimidade via televisão.
O ponto crucial, no entanto é que o Presidente Lula estabeleceu uma comunicação direta com o povo, com o eleitor. Inclusive, e aí se explica a necessidade de sua presença, no horário eleitoral. Bater a porta do ex Presidente, manter o comando de seu partido e das forças aliadas, tudo contará para a continuada presença do Presidente Lula na vida política. Mas a perca de audiência cativa ou estrategicamente calculada conta. E muito. É um fator político não desprezível.
Neste cenário, o deputado Flávio Dino do PC do B, acredita que o processo de legitimação política e de mobilização administrativa da Presidente Dilma Roussef terá de ser diferente. Inexistirá, pelo menos por enquanto o estilo da comunicação-legitimação direta da presidência com o povo, que algumas vezes pode até regredir a um populismo indesejável. O estilo futuro de governar será mais institucionalizado. Haverá a necessidade de mais negociar, de comandar através das instituições, jogar o jogo institucional, e não necessariamente fundamentar-se nos índices de aprovação que a todos influenciam: classe política, burocracia, investidores, bolsa de valores, trabalhadores, mídia e opinião pública. Por isto, o deputado é otimista e não vê possibilidade de retrocesso institucional. As instituições democráticas já seriam suficientes fortes como instrumentos viabilizadores e não limitadores dos objetivos maiores da nova presidente. Sendo o maior deles, exaustivamente repetido durante a campanha, a erradicação da miséria, a conquista de um país de classe média com liberdade de expressão.
Este cenário se facilita pela confortável maioria que o novo governo detém na Câmara e no Senado. Restando, portanto para a negociação institucional, o Poder Judiciário. No Supremo, além do já famoso, antes de sequer existir, o décimo primeiro ministro, a Presidente Dilma poderá indicar três novos ministros nas vagas de Ayres Britto, Cezar Peluso e Celso de Mello que completarão setenta anos durante seu mandato. Os negociadores principais do governo com o Poder Judiciário serão o Ministro da Justiça, o Advogado Geral da União e os líderes de governo na Câmara e no Senado. Nada de grave parece existir que uma boa equipe forjada no diálogo institucional não possa resolver.
Joaquim Falcão escreve quinzenalmente neste Blog