Entrevista de Ciro Gomes ao Jornal da Câmara:
Plano Real é uma herança que qualquer governo deve preservar
Ministro da Fazenda no governo Itamar Franco, a partir de setembro de 1994, quando o Plano Real já colhia os seus primeiros resultados, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) destaca a importância do programa de estabilização que mudou a economia economia brasileira e foi, segundo ele, o mais bem sucedido na história do País. Para Ciro Gomes, deputado federal em primeiro mandato, que já governou o Ceará e foi ministro da Integração Nacional, o controle da inflação sem a necessidade de medidas heterodoxas é uma herança que, em nome do povo brasileiro, deve ser preservada por qualquer administração.
Jornal da Câmara: Como integrante da equipe que implantou o Plano Real, em 1994, o que mais marcou a sua gestão?
Ciro Gomes: Assumi o Ministério da Fazenda durante a implantação do Plano Real, sucedendo o ministro Rubens Ricúpero que ficou no cargo de março a setembro de 1994. Esse ajuste econômico é considerado o mais bem sucedido de todos os planos lançados nos últimas décadas para combater casos de inflação crônica. Cabe lembrar que as bases do programa foram lançados no final de 1993. O plano funcionou muito bem e minha fase, como ministro, foi apenas de consolidação. Entendo que o maior líder dessa empreitada bem sucedida foi o presidente Itamar Franco que, a meu ver, foi injustiçado pelos seus sucessores. Lembro que os técnicos da Fazenda tinham ideias contrárias à edição do programa e eu, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Serra e Tasso Jereissati convencemos a equipe a preparar o Plano Real, garantindo que bancaríamos os riscos políticos. O que mais me marcou, à época, foi o fato de o Real ter sido editado e funcionado tão bem que, no dia seguinte, 100% da população brasileira foi normalmente às compras, o que causou até a ameaça de desabastecimento. Quer dizer, não houve traumas.
JC: O Plano Real ainda é o grande passo da política econômica nacional?
Ciro Gomes: Com certeza, o Brasil hoje pode comemorar os 15 anos da moeda estável que fez, inclusive, com que os mais jovens não tenham memória ou nem saibam o que é inflação, que começou a desaparecer em 1994. No governo anterior, o Brasil chegou a ter uma inflação de 84% em um só mês. Naquele cenário, o trabalhador tinha que ir ao supermercado e fazer as compras do mês porque não sabia como os preços estariam dali a 30 dias. Não se podia, sequer, comprar um carro em 12 prestações, o que hoje pode ser feito em até 80 meses. Por ai dá para se ter uma ideia da grandiosidade e dos bons frutos do Plano Real, um programa econômico que todo governo deve preservar e buscar aperfeiçoar cada vez mais.
JC: Como ministro da Fazenda à época, qual foi o seu grande desafio?
Ciro Gomes: Quando assumi o ministério, tive que tomar providências graves na área de abertura comercial, controle da especulação e o grande desafio foi desfazer os primeiros acordos de indexação que já estavam em andamento.
JC: Na época, o senhor deixou o governo do Ceará para assumir o Ministério da Fazenda. Politicamente foi uma boa opção?
Ciro GOmes: O que importa é que atendi a um chamado para servir ao meu País e o fiz com a certeza de que os resultados dariam frutos ao longo do tempo.
JC: Qual sua posição com relação à reforma política?
Ciro Gomes: Não participo desse consenso de que o Brasil precisa de reforma politica. Sou contrário a qualquer medida neste sentido, inclusive aquelas que visam à convocação de uma constituinte exclusiva para o tema. O que me preocupa, verdadeiramente, é a novelização dos escândalos e dos maus feitos da política que faz com que o povo, notadamente a juventude, seja induzida a crer que a política é uma coisa inconsequente quando, no entanto, foi ela quem venceu a inflação.
JC: Qual a sua avaliação sobre o recente golpe militar em Honduras?
Ciro Gomes: Já me pronunciei, inclusive, da tribuna da Câmara dos Deputados, repudiando o golpe e apelando para que o Brasil endureça as sanções que impôs àquele País. O Brasil tem obrigação, pelo seu papel natural de liderança, de agravar as sanções que o mundo democrático inteiro já tomou, de maneira a restaurar a presidência legítima de Honduras. Cabe lembrar que esse é o primeiro golpe de Estado que acontece na América Latina desde o final da Guerra Fria.
Agradeço ao blog do Sarafa a oportunidade de tomar ciência da valiosa entrevista do ilustre deputado Ciro Gomes. Nós, também, não aceitamos o golpe político – ante-democrático – aplicado em Honduras.
Parabens ao valoroso deputado.
Gláucio Gonçalves