Por Osíris Silva
O Brasil perdeu o timing de promover sua Revolução Industrial – como o fez Japão a partir dos anos 1960, Coreia do Sul nos anos 70 e 80 e, a partir de 1972, a China. O distanciamento do Brasil em relação à performance dessas nações alarga-se em ritmo irrefreável. Na contramão, a indústria brasileira, de acordo com o IBGE, é de baixo valor agregado, assentada em minério de ferro, celulose, perfumaria, sabões, detergentes, vestuários, borracha, plásticos, calçados. No plano local, há a se destacar que apenas seis cadeias produtivas respondem por 93% do faturamento do PIM. Produtos de alta tecnologia continuam de fora da matriz industrial do país, mais ainda da ZFM. Exatamente o forte de nossos principais competidores.
De acordo com o IBGE, base 2016, a Indústria como um todo representa 21% do PIB do Brasil, mas responde por 51% das exportações, por 68% da pesquisa e desenvolvimento do setor privado e por 32% dos tributos federais (exceto receitas previdenciárias). Para cada R$ 1,00 produzido na indústria, são gerados R$ 2,32 na economia como um todo. Nos demais setores, o valor gerado é menor: R$ 1,67 na agricultura e R$ 1,51 nos comércio e serviços. Entretanto, de 2008 a 2018, a participação das mercadorias industrializadas no total das exportações brasileiras caiu de 54,25% para 39,17%, enquanto a de produtos do primeiro setor avançou de 31,32% para 47,33%.
Não há dúvidas de que a exploração da biodiversidade, dos recursos naturais de base biotecnológica, da produção de alimentos em larga escala, ecoturismo é o futuro. Desenvolver a Amazônia e, por extensão a ZFM é função direta da exploração sustentável de suas riquezas potenciais. O CBA é parte integrante do elenco de soluções ajustadas às metas assim configuradas, tendo em vista, de acordo com estrutura desenhada pelo Mdic, promover inovação tecnológica de processos e produtos. É missão do Centro, por conseguinte, criar condições para o desenvolvimento e aprimoramento de processos e produtos de nossa bioeconomia.
Visto desse ângulo, caberá ao CBA: a) desenvolver ação integrada com a universidade e centros de pesquisa do setor público e privado (Rede de Laboratórios Associados – RLA); b) aumento da densidade tecnológica no setor industrial (Parque Bioindustrial na região amazônica); c) promoção de ambiente favorável à Inovação (oferta de serviços tecnológicos); c) desenvolvimento e difusão de produtos e processos biotecnológicos com valor agregado em toda a cadeia produtiva. O principal objetivo do CBA é, por conseguinte, transformar os conhecimentos gerados por institutos de pesquisa já existentes em produtos com valor agregado em toda a cadeia produtiva. Neste sentido, o Centro já vem desenvolvendo produtos e processos em parceria com instituições de ensino e pesquisa e com a iniciativa privada.
As instalações físicas do CBA – 12.000 m² de área construída – comportam 25 laboratórios (biologia molecular e microbiologia, ressonância magnética nuclear, farmacodinâmica, segurança farmacológica, toxicológica, cultura de tecidos, produtos naturais, cromatografia, tecidos vegetais, entre outros). Além dos laboratórios, o Centro dispõe de uma Planta Piloto de Processos Industriais, uma Incubadora de Empresas de Base Tecnológica, um Biotério, uma Central de Produção de Extratos e um Show Room.
Ativos de elevada significância tecnológica, sobre os quais o governador Wilson Lima, respaldado em sua equipe do Planejamento, Ciência e Tecnologia e Fapeam, obriga-se a assumir autoridade firme no que tange à gestão do CBA. O futuro da ZFM depende da integração e fortalecimento da base de P&D regional. Inpa, Fapeam e universidade têm nomes importantes para exercer o encargo. A trazer alguém de fora, vamos pensar em importar quadros da Usp, da Unesp, do Impa, do Inpe, até de grandes centros tecnológicos estrangeiros. Só não se pode admitir improvisos ou arranjos político-partidários. Aí então seria o fim do Centro e o adeus à ZFM 2073.