Por Alfredo Lopes:
As informações sobre a sugestão de Estevão Monteiro de Paula para dirigir o Centro de Biotecnologia da Amazônia foram colhidas na Casa Civil, da Presidência da República, onde adormece a proposta de definição do modelo de gestão desse projeto há muito tempo. Desde 2002, quando as estruturas e os primeiros laboratórios do Centro de Biotecnologia da Amazônia foram instalados, com recursos recolhidos junto às empresas, aguardam-se saídas institucionais para esta relevante iniciativa. Foram investidos mais de R$ 120 milhões no projeto, a “base ecológica” do modelo como querem os desafetos da ZFM. No planejamento estratégico da Suframa em 2008, já fora recomendada a simples transferência do CBA para o âmbito da Embrapa, garantido imediata operacionalização do Centro e as novas matrizes econômicas que o modelo ZFM necessita para incrementar sua diversificação e competitividade e regionalizar seus benefícios.
A Embrapa já domina a tecnologia do cultivo racional da seringueira, para reativar a economia da borracha na região, não apenas para abastecer as indústrias de pneus instaladas na ZFM e diversificar o setor, mas para apostar na interiorização de novas oportunidades. Além da borracha, são promissoras as potencialidades de negócios nas áreas de óleo de palma, guaraná, seringueira, banana, silvicultura do cupuaçu, mandioca, aquicultura, sistemas agroflorestais, fruticultura, integração Lavoura-Pecuária-Floresta, biotecnologia para substituir as fibras de vidro dos celulares, tablets e motocicletas por fibras como o curauá, propagação de espécies e suporte ao melhoramento genético. O cultivo racional de castanha, pupunha, ou madeiras de alto valor comercial da Agropecuária Aruanã, do empresário Sérgio Vergueiro, orientadas historicamente por pesquisadores focados no binômio inovacao+desenvolvimento, são a prova dos vários acertos possíveis. Essas atividades, que se juntam à Nutracêutica – a indústria da juventude que movimenta o poderoso mercado dos cosméticos e da alimentação orgânica – se relacionam à produção de fitoterápicos, já avançada em experimentos bem sucedidos nas cadeias produtivas não predatórias, da AFEAM, a Agência de Fomento do Estado, descobertas e prestigiadas pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento. Elas representam não apenas as oportunidades de reduzir a pobreza e os baixos índices de Desenvolvimento Humano da Amazônia, como também modelos de empreendedorismo sustentável, aplicáveis aos diversos biomas da região.
É nesse contexto que, em estreita cooperação com a Universidade do Estado do Amazonas – que mapeou as demandas de recursos humanos e de inovação por vocações das calhas de rio – o modelo de gestão do CBA se consolida na proposta da geógrafa Bertha Becker, para propiciar a constituição de estabelecimentos produtivos, coerentes com as vocações regionais. Sobram inventários de oportunidades de bionegócios em 63 anos do INPA e falta gestão integrada dessas cadeias na perspectiva do mercado, onde devem interagir o cientista, o extensionista, o silvicultor, e a figura do trader, aquele especialista anônimo que interage em toda a cadeia produtiva, desde a seleção das melhores sementes, geneticamente aprimoradas pelo suporte da inovação tecnológica das instituições locais e regionais, até o consumidor final, em todo o território nacional e no exterior, onde a demanda mapeada de produtos orgânicos alcança cifras astronômicas.
O CBA, no limite, deve integrar a economia do polo industrial com sua demanda de produtos regionais, em resposta à intensa expectativa de tantos anos de adiamento e dispersão de energias para interiorizar a economia. No interior amazônico, milhares de jovens que vagueiam entre o ócio, o tráfico e a delinquência – a chamada geração nem-nem, multidões de moças e rapazes, que nem trabalham nem estudam, – por absoluta ausência de opções, aguardam a nova chance, as ações concatenadas que saibam convocar, selecionar, contratar e treinar novos profissionais e resgatar a credibilidade perdida com tantos anos de indefinição.