Por Josias de Souza:
No miolo da proposta há a criação de um Regime de Recuperação Fiscal. Coisa emergencial. Autoriza Estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, cujos cofres estão no osso, a suspender o pagamento de suas dívidas com a União por três anos. Em torca, o Ministério da Fazenda exigia um lote de condições. Por exemplo: privatização de estatais, suspensão de contratações, congelamento de reajustes salariais, elevação das contribuições previdenciárias e abertura de planos de demissões voluntárias. O Senado avalizara. Mas a Câmara derrubou tudo.
Ao sentir o cheiro de queimado, o governo tentou esvaziar a sessão. Mas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em campanha para permanecer na poltrona, resolveu fazer pose de independente para seus colegas. E rosnou para o governo:
”Não precisamos dizer amém ao Ministério da Fazenda. Temos que votar o texto que é melhor para o Brasil. Se o presidente [Temer] entender que não é o melhor para o Brasil, tem poder de veto. O que não podemos é convocar os deputados e não votar nada. Quem quiser, na tarde de hoje, assuma sua responsabilidade de votar contra ou a favor. Agora, não votar é achar que a Câmara não respeita a sociedade.” Ai, ai, ai,
Até os governadores estavam a favor das condições impostas pela União. Era o pretexto que precisavam para endurecer com os servidores. Diriam: “Não posso fazer nada. Tenho que respeitar a lei.” Agora, terão de recorrer às Assembleias Legislativas para tentar conciliar suas folhas salariais com a realidade.
A lição da falência do setor público deveria ser a de que todas as premissas usadas pelos políticos brasileiros para gastar o dinheiro alheio precisam, no mínimo, pegar um pouco de ar. Para que a breca servisse mesmo de lição seria preciso que os parlamentares se convencessem de que a sua irresponsabilidade, pior do que um crime, é um erro. Que precisa ser entendido e corrigido. Algo que talvez só vá acontecer no dia que faltar dinheiro para os contracheques do Congresso.
Comentário meu: E a tese de que existe almoço de graça continua vencendo. Depois…