Bumerangue

Por Marta Suplicy

Muitos foram os textos na Folha sobre a política de premiação por mérito a professores. Em Nova York, depois de avaliada por quatro anos, a política de bônus foi suspensa, pois professores que recebiam gratificação não obtiveram melhor desempenho de seus alunos. Sozinho, o bônus não funciona.

No Brasil, a pesquisa “Educação em Territórios de Alta Vulnerabilidade Social na Metrópole” mostrou que a localização da escola afeta o desempenho dos alunos. Além do bairro ser “deseducador”, o lar muitas vezes é tenso pelas dificuldades de sobrevivência e as possibilidades de lazer e cultura praticamente nulas. O contato com o belo é desconhecido e as perspectivas, limitadíssimas.

Desafio das grandes cidades, inúmeras crianças vivem em situação em que não lhes é permitido o desenvolvimento pleno, em escolas não convidativas, com professores desestimulados e pais que mal podem colaborar.

Faz toda a diferença escola bem equipada; professor preparado; lar com livros, revistas e eletrônicos, além de pais com conhecimento e condições de ampliar o horizonte do filho. Não é a situação da maioria das nossas crianças.

Como lidar com o aluno, estimulando sua vontade de ir à escola e de aprender? Providenciando uniforme para não ser discriminado ou ter que faltar quando a roupa não secar; boa alimentação; contato com outro universo e professores preparados para acolher e motivar a vontade de aprender e progredir.

Tais ingredientes suprem desde a falta de “território” adequado até a autoestima, um dos fatores que mais favorecem o aprendizado. Assim, a escola resgata o prazer de estudar e cria oportunidades antes inexistentes.

O Centro Educacional Unificado responde a quase todas essas questões. Infraestrutura de primeira, cultura, esporte e participação da família, inclusive na gestão. Além disso, o CEU promove a integração da escola à comunidade e à família, fator importante nas escolas que têm boa avaliação. Ficou marcada para mim a fala de uma aluna de 8 anos: “Quando me perguntam onde moro, não digo mais na favela. Eu falo: estudo no CEU”. É a satisfação de poder ter oportunidade tão diferente de tudo que já vivera.

Sem falar da mudança na conduta dos professores e no orgulho que sentem pelas condições de trabalho, com crianças que aprendem e não faltam. Funciona como um bumerangue. Professor que se sente valorizado retorna tal respeito e atenção ao aluno.

Creio que já conhecemos o caminho para dar condições de aprendizagem ao aluno, até ao mais carente. Temos uma resposta para o professor, mas não muito misteriosa: nada como formação melhor, tempo para preparar aulas e salário decente.