Para fazer o mínimo de justiça às vidas ceifadas em Brumadinho, é necessário extrair do episódio a interpretação política correta: não se trata de um acidente, mas de crime, sobretudo político. Crime perpetrado pela indiferença à gente simples, de que é exemplo o descaso com Mariana (MG); crime de entregar o país a interesses estrangeiros, que podem assistir à desgraça de bem longe; crime por relaxar a imperiosa gestão de riscos ambientais, a pretexto da “facilitação dos negócios”.
Essa é uma visão classista em uma sociedade que se pretende liberta das classes: curiosamente, as tragédias ambientais alcançam os que quase nada têm, preservando íntegros vida e patrimônio dos que se beneficiam do “refresco” na fiscalização das autoridades ambientais.
Que essa tragédia sirva de alerta, especialmente ao governo que se inicia, com uma retórica de que a fiscalização persegue empresários… Quem nos dera, fosse de fato necessário moderar os agentes de estado com poder de polícia, em sua atuação sobre empresas ambientalmente conscientes. A realidade é bem outra, e na verdade tem faltado ao Brasil um projeto político que compreenda não existir civilização, onde não se pratica o mais largo respeito ambiental. O governo, portanto, que se cuide e se emende , quanto à visão obtusa que até aqui demonstrou ter, sobre ações (e inações de Estado) que podem custar centenas de vidas. Gestão de risco ambiental não é algo que se possa enfrentar com bravatas.
Brasília, 26 de janeiro de 2019
Carlos Siqueira
Presidente nacional do PSB