O mundo vive um momento de mobilização sem precedentes para enfrentar a Covid-19. Governos, poderosos grupos da indústria farmacêutica, além de instituições filantrópicas contribuem com bilhões de dólares para a pesquisa e o desenvolvimento de vacinas contra o SARS Cov 2. A sociedade científica, por sua vez, está fazendo história ao avançar na produção de vacinas em tempo recorde, transformando-se, passo a passo, num grande laboratório mundial para testes de imunizantes. A busca por um imunizante capaz de combater o Covid-19 é, sem dúvidas, o maior desafio para a sociedade científica mundial na atualidade. Desde o início do enfrentamento da pandemia no Brasil, como um dos pilares na estratégia de combate ao novo coronavírus, a Fiocruz, do Rio de Janeiro, tem feito parte das diversas frentes nacionais e internacionais de busca pela vacina contra o novo coronavírus.
A propósito, a Fundação acaba de lançar edital de licitação para contratação de investidores interessados em participar da construção do Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde (CIBS) do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Bio-Manguinhos/Fiocruz), em Santa Cruz, no Rio de Janeiro. O empreendimento será o maior centro de produção de produtos biológicos da América Latina e um dos mais modernos do mundo. Dessa forma, Bio-Manguinhos/Fiocruz poderá aumentar em quatro vezes a capacidade de produção de vacinas e biofármacos – número que poderá ser ainda maior dependendo do mix de produtos – para atender prioritariamente às demandas da população brasileira por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Tal produção reforçará a autossuficiência do país na área de imunobiológicos, reduzindo a dependência tecnológica externa.
Quanto ao Instituto Butantã, de S. Paulo, testes para estudos clínicos com a vacina começaram em julho do ano passado em sete estados, incluindo o DF. Desde o início, 252 pessoas foram infectadas: 167 do grupo placebo e 87 que tomaram a vacina. É importante destacar que entre os vacinados, não houve nenhum caso grave e nem moderado. Os resultados do estudo da fase 3 mostraram que nos casos graves e moderados a eficácia é de 100%. Nos casos leves, 78% e, nos muito leves, 50,38%. Isso significa que temos 50,38% menos chances de contrair a doença. Se contrairmos, há 78% de chance de não precisarmos de qualquer atendimento médico e 100% de certeza de que a enfermidade não vai se agravar. Após tomar a vacina, quem contrair o vírus não desenvolverá a doença, mas poderá transmiti-la. As vacinas atuam na prevenção e evitam o contágio, induzindo a criação de anticorpos por parte do sistema imunológico.
Universidade e pesquisa regionais precisam integrar-se de vez aos institutos que lideram as investigações científicas visando à produção de vacinas, antídotos e outras drogas no país. Numa abrangência logística pan-amazônica, reunir INPA, Fiocruz, Instituto Sinchi, de Letícia, Colômbia, na tríplice fronteira com Brasil e Peru, liderar “cluster” de conhecimento local e avançar soluções técnicas amadurecidas. A iniciativa poderia, apoiada financeiramente, otimizar respostas no combate ao coronavírus associada a expertises derivadas do uso de recursos da biodiversidade amazônica, da nanotecnologia, bioengenharia e biogenética empregados no combate à malária, leishmaniose e outras enfermidades típicas dos trópicos úmidos.
Momento perfeito para demonstrar a eficácia de nossos biofármacos. Com efeito, face à magnitude do projeto da Fiocruz, oportuno considerar, penso eu, a viabilidade da pesquisa amazônica vinculada à exploração sustentável dos recursos da biodiversidade vir a integrar-se ao empreendimento como fornecedora de insumos básicos. Afinal, o Brasil está importando IFA – Ingrediente Farmacêutico Ativo da China, por que não investigar a possibilidade de extração de alguns deles das insurgentes potencialidades de nossa bioeconomia? O campo é promissor.