Biodiversidade, o futuro da ZFM

 

 

 

Osíris Silva

 

Premissa fundamental: desenvolver o Amazonas, creio do entendimento geral, pressupõe ampliar os campos de atividades setoriais do PIM, estendendo-os ao interior do Estado com fundamento na indústria processadora de matérias primas oriundas da biodiversidade, da produção mineral, da produção de alimentos, e pelo turismo ecológico, excepcional gerador de emprego e renda ao redor do mundo. Para tanto, o governo necessita de estudos técnicos e de viabilidade econômico-financeira com vistas a identificar com a máxima precisão e oportunidade os investimentos em tecnologia de ponta (de produto e processos) para a exploração sustentável do complexo bio-econômico. Além disso, dimensionar o valor econômico intrínseco da biodiversidade a partir de documentos de absoluta consistência técnica, e, com efeito, nortear ações de governo nesse estratégico campo. Iniciativas que, por outro lado, possibilitarão medir o passivo do governo Federal em relação à região, e, assim, fundamentar agenda de negociação em Brasília para o seu resgate.

 

O fato é que, sozinhos, não chegaremos muito longe como não chegamos até hoje. O Polo Industrial de Manaus, circunscrito a sete cadeias produtivas que respondem por 93% das atividades do parque manufatureiro instalado, não irá certamente desaparecer diante do padrão de alta competitividade internacional alcançado pelas potências que lideram a evolução tecnológica mundial. Permanecerá, contudo, restrito ao mercado doméstico, mesmo assim sujeito a concorrência estrangeira cada vez mais acirrada. Ao que se pode inferir, com peso relativo mais modesto no conjunto da economia amazonense.

 

Diante desse cenário, o setor moderno, o futuro do Amazonas, e da Amazônia, está indissoluvelmente ligado à exploração dos produtos da biodiversidade (fármacos, cosméticos, biotecnológicos, bioengenharia, bioenergia, nanotecnologia), além da produção de alimentos, serviços ambientais e ecoturismo. Seu aproveitamento econômico demanda, entretanto, altos investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Para tanto, impõe-se tornar a região em definitivo prioridade nacional, permitindo a  canalização de fluxos financeiros demandados por essas novas configurações econômicas. Fundamental que o Executivo acredite firmemente nessa perspectiva, dispensando-lhe a devida atenção por meio de políticas públicas e ações de governo compatíveis.

 

Forças do ensino e pesquisa precisam estar congregadas e direcionadas nessa direção: Inpa, Embrapa,  Universidade e CBA trabalhando absolutamente sincronizados e focados nas prioridades da “nova” economia estadual. Isto é, pesquisar e desenvolver produtos para o setor produtivo explorar de acordo com as potencialidades socioambientais das mesorregiões medidas pelos Zoneamentos Ecológicos Econômicos (ZEEs) de tal sorte a emprestar-lhes consistência tecnológica e mercadológicas. As carências são extremadas, como complexos são os meios lógicos subjacentes ao equacionamento de solução matemática de qualquer porte. Além disso, visão de longo prazo do Executivo, meios técnicos e pessoal qualificado para o exercício da governança do sistema de pesquisa e desenvolvimento, altamente deficitários no Amazonas.

 

Além do empobrecimento da estrutura técnica (física e de pessoal), há de se observar, por outro lado, que, tanto o sistema de Planejamento quanto o de Ciência e Tecnologia, desativados, levaram o Estado a perder conectividade com instâncias correlatas localmente e em Brasília, e, no plano internacional, junto a organismos multilaterais, como Banco Mundial, fundos soberanos japoneses, coreanos e alemães. De igual forma, o Estado deixou de lado a estruturação de parcerias público privadas (PPP) com grupos empresariais nos campos da biotecnologia, do ecoturismo e da mineração. Impõe-se, com efeito, agir rápido no resgate da capacidade de elaboração de estudos e projetos setoriais, instrumentos que tem por função primordial subsidiar e instrumentalizar tais negociações.