Antes de prosseguir as análises sobre as batalhas perdidas, convém fazer um pit stop e registrar algumas opiniões, via e-mails, manifestadas por empresários e profissionais liberais com largo conhecimento sobre a economia do Amazonas. Aderson Frota, diretor da Associação Comercial do Amazonas, considera um desalento o cenário exposto pela coluna, observando: “Quanto menos atividade primária, mais dependência do Polo Industrial de Manaus”. Nos momentos de crise, completa, “enxergamos como é importante o setor primário”, acrescentando: “Perdemos a borracha, a juta, o cacau, o guaraná, o quinino, e vamos continuar perdendo, se não reagirmos de forma intensa e contínua, pois tudo vem de fora: banana, peixe, verdura e várias outras frutas”.
O agrônomo José Liberato, com vasta experiência no setor, confessa-se cético quanto a implantação de cadeias produtivas, “embora reconhecendo a eficácia que um bom sistema produtivo acarreta”. Parte do princípio, ressalta, de que, “nesta área de atividades deveríamos começar do zero, reconhecendo, efetivamente, o que você quase nos diz, ou seja, nada produzimos”. Para Liberato “nosso gargalo maior encontra-se na falta de agricultores, daquele tipo que nasceu e cresceu na lida, que gosta da terra e da produção, que tem tradição e raízes”.
José Liberato registra que “quando do abandono dos seringais, os seringueiros foram trazidos para as cidades e assentados como mão de obra proletária nas demandas urbanas”. O Amazonas de fato não se esforçou o suficiente para superar as adversidades trazidas pelo fim do ciclo da borracha. Rondônia, salienta, “com alta produção de café, leite, gado, grãos, pescado, etc., reagiu diferente. Assim como Mato Grosso e o Maranhão, onde a agropecuária avança significativamente. O Pará é outro exemplo, reconhecendo que “tudo isso ocorreu com a chegada de agricultores experientes e de tradição, vindos de regiões tradicionalmente produtoras como Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas e São Paulo”.
Breve comparativo entre a economia agrícola do Pará e do Amazonas dá pista conclusiva para uma melhor compreensão do problema. Cotejando dados do IBGE sobre o ano agrícola de 2014 em relação a algumas culturas, tem-se o seguinte quadro: enquanto o estado paraense cultiva 344.323 ha e produz 4.914.831 t de mandioca, o Amazonas planta apenas 74.804 ha com uma produção de 846.884 t. Milho: enquanto no Pará são 205.150 ha de área cultivada e uma produção de 590.078 t, o Amazonas tem plantado 7.280 ha e uma produção de 21.430 t. Feijão: no Pará – 41.342 ha cultivados e uma produção de 28.751 t, no Amazonas há 2.204 ha e uma produção de 1.806 t. Cana de açúcar: o Pará tem plantado 13.350 ha e produziu, em 2014, 921.704 t. No Amazonas, para uma área plantada de 4.629 ha, a produção atingiu 302.066 t.
No total dos dois estados, a produção agrícola amazonense (lavouras temporárias) representa, em termos de área plantada, apenas 10,05%, e ao valor da produção apenas 23,20% em relação ao Pará. Não vou me estender apresentando dados de Rondônia ou do Mato Grosso, nem do Acre e de Roraima, estados que vêm abastecendo o Amazonas de banana e pescados, por exemplo. O caso da banana é emblemático. Não obstante as novas variedades FHIA 18 (do grupo prata), Thap Maeo (do grupo maçã) e FHIA 17 (grupo próximo à nanica, ou nanicão), resistentes à sigatoka negra haverem sido desenvolvidas na Embrapa/Cpaa, em Manaus, é em Rondônia e no Acre que estão sendo plantadas em maior volume.
Por isso a falta da fruta no mercado local. Registre-se que os números do Amazonas se mantêm quase inalterados há pelo menos 30 anos. Ou seja, o setor, ao contrário do que se apregoa encontra-se em estado de franca estagnação. Diante do quadro, um outro empresário que preferiu não se identificar, arrisca um palpite: “Penso que nosso maior problema é de capital humano. Não temos talento para agricultura. Somos basicamente mascates e/ou extrativistas”.
Manaus, 18 de maio de 2016.
Osiris Silva
ECONOMISTA
osirisasilva@gmail.com