A economia agrícola do Amazonas vive de continuados revezes. Creio que jamais chegamos a dominar uma cadeia produtiva e assumir posição de liderança na produção e comercialização de qualquer produto agropecuário. A exemplo do Pará e Rondônia com a mandioca, dendê e pecuária. Sucessivas frustrações de expectativas abrangem desde produtos extrativos quanto de cultivo. Cite-se como exemplo a banana, que, nem com as novas variedades desenvolvidas pela Embrapa/CPAA o cultivo aqui deslanchou, estando hoje o mercado de Manaus sendo abastecido pelo Acre e Bahia. O mesmo se passa com o cacau, guaraná, pescado, indústria de laticínios, avicultura de corte, juta e malva, óleos essenciais. A pecuária vem alcançando importante desempenho fora do eixo tradicional do Baixo Amazonas, consolidando-se em Boca do Acre e Lábrea, e mais recentemente, numa escala de maior realce na franja sul do Estado, compreendendo Humaitá, Apuí e Santo Antonio do Matupi (KM 180 da Transamazônica). Não apenas a pecuária, mas a indústria madeireira, que igualmente não evoluiu em nenhuma mesorregião, ou em qualquer calha dos rios amazonenses deverá encontrar ali futuro mais promissor.
Durante o ciclo da borracha, cujo auge ocorreu entre 1879 e 1915, tendo depois experimentado sobrevida entre 1942 e 1945 durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Manaus assume a condição de centro exportador da goma elástica. De um aglomerado urbano no meio da selva amazônica torna-se uma capital moderna. Edifícios com estilos arquitetônicos europeus são construídos a partir de 1880, cujo exemplo de maior realce é o Teatro Amazonas, além dos palácios e mansões senhoriais, inspirados na arquitetura francesa e italiana. Manaus é chamada de Paris dos Trópicos, a segunda cidade brasileira a instalar iluminação elétrica. Belém transforma-se na quinta cidade do País no início do século XX, após Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife. Durante este ciclo, a renda per capita no Amazonas foi, em média, de 224$000 (duzentos e vinte e quatro mil réis) e nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, 93$000 (noventa e três mil réis). A borracha representa 40% do volume das exportações do País. Com isso a região amazônica passa a ter importância econômica mundial.
Nada, porém, evoluiu daí em diante. Outras importantes batalhas foram perdidas, como a do quinino. Segundo a Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), o quinino foi o primeiro medicamento correntemente usado para tratar malária, tendo sido abandonado seu emprego principalmente após o início do emprego da cloroquina. A partir da década de 60, com o surgimento de resistência do Plasmodium falciparum (P. falciparum) à cloroquina voltou-se a utilizar o quinino isolado ou em associação para tratar tal infecção. Objetivando avaliar clinicamente a resposta ao quinino de pacientes com malária por P.falciparum, a SBMT analisou prontuários de 484 pacientes atendidos no Laboratório de Malária da SUCEN, com 81,0% de sucesso de cura. Além do emprego no combate à malária, a casca milagrosa peruana é empregada na fabricação da água tônica.
De acordo com relato de Euclides da Cunha em sua obra “Amazônia, um Paraiso Perdido”, de 1905, reeditada em 2011, um certo explorador de nome Marckam, “comissionado pelo governo inglês, andava nas regiões da quina calysaia; e conseguira transplantar tão prontamente para as Índias aquele elemento da fortuna peruana”. Desta forma, em 1862, segundo Cunha, mais de quatro milhões de árvores de quinino, produziam, em Darjeenling, cidade do estado indiano de Bengala Ocidental, “extraordinárias 370 toneladas de quinino”, deslocando o centro de interesse sobre o produto para aquele país. Nem Perú, Colômbia, Equador ou Brasil conseguiram tirar proveito desse ciclo, cujas maiores áreas de produção, contemporaneamente, encontram-se na ilha de Java, Indonésia; Índia e em outros países do sudeste asiático. Prossegue na próxima semana.