O Amazonas produz ovos mas não produz milho, razão pela qual também não produz frango de corte. Uma contradição impensável em qualquer parte do mundo. O milho é o insumo básico para a produção da ração. A produção de uma caixa de ovos consome 50Kg de insumos, cem por cento oriundo de fora do Estado. Com uma demanda da ordem 60 mil toneladas/ano, o principal deles, o milho, além de muito caro, exige intrincado malabarismo para sua aquisição no Mato Grosso e Rondônia. Em decorrência dos elevados custos de transporte e logística, os produtores locais são forçados a praticar preços internamente superiores muitas vezes a 40% em relação ao da concorrência vizinha.
Enquanto o ovo manauara é vendido nos supermercados ao preço médio de R$ 14,50 a cartela, o de Primavera do Norte, MT, chega aqui a R$ 9,90. De acordo com estudos da Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas (FAEA), a produção local de ovos do Amazonas é da ordem 1,5 milhão de caixas. Os principais produtores estão nos municípios de Manaus, Iranduba, Rio Preto, Itacoatiara e Manacapuru. Mesmo assim, entra em Manaus cerca de 15 mil caixas de ovos mensalmente. Um caminho sem volta, adverte o granjeiro Milton Sakamoto. Um dos pioneiros do setor no Amazonas, Sakamoto acredita que, sem uma solução consistente para a cadeia produtiva, produtores amazonenses tendem a transferir suas unidades de produção para Mato Grosso ou Rondônia e de lá abastecer nosso mercado.
Diante do quadro de adversidades que afeta o setor, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas (FAEA), Muni Lourenço Jr, reuniu, em sua sede, na segunda-feira, 6, com representantes da Sepror, Idam, Banco da Amazônia, Afeam, Federação da Agricultura, Embrapa, do deputado Dermilson Chagas, presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária e Pesca da ALE, além de membros da Associação dos granjeiros e empresários do setor agropecuário para discutir a questão.
O Amazonas, dada a inexpressividade do setor primário, falha irreparável da política de incentivos da Zona Franca de Manaus, gera 92% de sua economia nas atividades da ZFM. O Polo Industrial, por seu turno, hoje concentra em apenas cinco itens (televisor, químico-concentrado, duas rodas, celular e ar condicionado Split) 55,9% da produção e faturamento do PIM. A forte depressão do consumo interno derrubou os mercados, fator que vem fazendo cair dramaticamente a arrecadação tributária do Estado, gerando, em consequência, desemprego em escala jamais antes conhecida.
Face à dinâmica altamente favorável das exportações brasileiras de milho, o governo regula as vendas internas e, assim, limita drasticamente a capacidade de abastecimento dos produtores. O atendimento da demanda de insumos (milho, principalmente) para a produção local de ração tornou-se um exercício de alta criatividade envolvendo pesados sacrifícios. Alguns produtores, como a Granja S. Pero, tiveram que realizar pesados investimentos na formação de frota própria de balsas para transportar suas aquisições de Rondônia a Manaus, ou mesmo plantar milho no estado vizinho.
As vendas dos estoques reguladores em balcão pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a preços em torno de R$ 17,50 a saca de 60 Kg, busca beneficiar principalmente pequenos criadores. Além desse ponto, as grandes quantidades são supridas via leilões. Fora dessas fontes, o produtor tem que ir a mercado para complementar suas necessidades do grão pagando em torno de R$ 60,00 a saca de 60 Kg.
Enquanto o produtor se debate nessa intrincada rede kafkiana para aquisição do grão, de acordo com a CNA, as exportações do complexo soja e milho pelos portos do Arco Norte (Itacoatiara, AM, Santarém e Vila do Conde, PA, Itaqui, MA e Salvador, BA) tiveram um crescimento de 7 milhões de toneladas em 2009 para 19,4 milhões de toneladas em 2015, um salto de 177%. Só há, evidentemente, uma solução para corrigir essa distorção: viabilizar a produção local de milho. A quem cabe a responsabilidade?
Manaus, 15 de junho de 2016.