Bastaria atravessar a rua

Por Francisco R. Cruz

Em junho de 2003 Claudio de Moura Castro, articulista de Veja, escreveu o artigo “Lições do Futebol” mostrando nossa soberba, ignorância ou descaso com a educação. Dizia ele: “quem quer melhorar o seu futebol procura o Brasil, porque ganhamos cinco vezes. Mas nós nem sequer sabemos como se alfabetiza nos países que ganharam a copa do mundo da educação”.

O texto foi a propósito do resultado do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) daquele ano, quando a campeã foi a Finlândia. Oito anos depois, em maio deste ano, o Jornal Nacional da Rede Globo fez uma “Blitz da Educação”. Sorteou uma cidade por região e em cada uma delas visitou a melhor e a pior escola do ensino fundamental, segundo as notas do IDEB (Índice do Desenvolvimento da Educação Básica.

As cidades sorteadas foram Novo Hamburgo-RS, Vitória-ES, Goiânia-GO, Caucaia-CE e Belém- PA. As melhores notas (6,2 a 7,1) estão dentro da média de países desenvolvidos e as piores (1.7 a 3,5) estão abaixo da média brasileira. A exceção de Goiânia e Belém, a população das demais está abaixo dos 350 mil habitantes. (g1.globo/jornalnacional/jnnoar/educação).

Na reportagem ficou muito claro, que o problema da educação brasileira não está principalmente na falta de recursos financeiros, como se costuma alegar. Nem mesmo o salário baixo dos professores, sempre apontado como o grande vilão, como já se sabia, mostrou não ter influência alguma no desempenho daquelas escolas, pois, em todos os casos inexiste diferença salarial expressiva entre as melhores e as piores escolas dentro da mesma cidade.

Quem demonstrou fazer grande diferença foram as boas práticas de gestão, estas sim, são as responsáveis pelo bom desempenho das melhores escolas. Nelas as diretoras e todo o corpo docente estão altamente comprometidos com os resultados. Os professores nunca faltam e todos estão conscientes da missão de fazer o aluno aprender. A direção reconhece a importância das famílias no processo e desenvolve estratégias para atraí-las às atividades da escola.

Às piores restaram desculpas, falta de compromissos, professores faltosos, constantes greves e a aceitação do fracasso enfim. A escola de Goiânia há oito anos tinha 67 alunos, péssimo desempenho, professores desmotivados, além de outras mazelas. A atual diretora chegou com a missão de fechá-la. Fez diferente. Resolveu mudar o jogo e a sua nota atual é de 7,1 (nota de país campeão).

Todos querem estudar nela. Suas palavras: “Aqui não temos tempo para esperar que os alunos aprendam. Temos de ensinar a todos eles”. A de Novo Hamburgo (6,6) segunda melhor nota disse: “meu objetivo é aumentar o turno da escola em mais duas horas. Os alunos precisam de mais qualificação e devem ter mais tempo para estudar”. Citei estas duas, mas o compromisso com o sucesso dos alunos é a marca de todas as diretoras das boas escolas.

As cidades sorteadas são de médio porte, donde se imagina que entre as duas escolas de cada cidade, a distância não deve ser superior a 30 minutos de carro. Como os resultados do IDEB são amplamente divulgados. É inacreditável que os gestores das cidades e das escolas de baixo desempenho, não tivessem a menor curiosidade de ver o que as melhores escolas estão fazendo. Falta de compromisso com a educação?

Exemplos como esses, para o bem e para o mal, existem em qualquer lugar do país. Aqui mesmo em Manaus temos o caso de sucesso (devem existir outros) da Escola Albérico Antunes de Oliveira, o que, aliás, sequer consta do site da SEMED. Conhecer o trabalho das empresas bem sucedidas e delas copiar as melhores práticas de gestão, consentidas ou não, é rotina no mundo empresarial globalizado.

Os americanos definem esse processo com a palavra “Benchmarketing”. Se o poder público já tivesse incorporado a cultura do “Benchmarketing” como instrumento de gestão, dentro do seu próprio ambiente, a educação brasileira estaria em outro patamar. Talvez nem fosse preciso atravessar oceanos em cansativas horas de vôo. Bastaria atravessar a rua.