O devastador terremoto, acompanhado de gigantesco tsunami, é prova tão dura, para a brava civilização japonesa, quanto o final da Segunda Grande Guerra, de que o crudelíssimo bombardeio atômico sobre Hiroshima e Nagazaki. Desta vez, novamente, a dor cederá vez à reconstrução e à esperança.
Uma senhora de 90 anos foi resgatada com vida de escombros da cidade de Otsuchi, ao norte de Miyagi. Que símbolo mais eloquente de resistência?
O mundo especula sobre o Japão: o crescimento, previsto para 1.7% neste ano, cairá para 1.3%? Decrescerá? Ou o esforço pela reconstrução representará o fim da estagnação de 20 anos?
Afinal, o Plano Marshall substituiu o caos imposto pelo conflito de 1939/45. Os EUA temiam o crescimento da influência comunista e investiram fundo na retomada econômica de países estratégicos. E o Japão, mercê de sua cultura milenar, da disciplina de seu povo e do acúmulo tecnológico que detinha, obteve ingresso no chamado Primeiro Mundo.
Agora não será diferente, em que pese a tortura vivida por muitos milhões de seres humanos, entre os quais 300 mil brasileiros que experimentam tempos incertos. As quatro usinas nucleares que apontam vazamentos e perigo de irradiação, além de serem, agora, o principal motor do medo, nos levam a discutir a validade, ou não, de se continuar gerando essa energia. Precipitados do tipo “a” clamam pelo fechamento das usinas. O grupo “b” se apressa em assegurar o contrário. E quem não é açodado busca informar-se, ouvindo opiniões, contraditórias entre elas, de especialistas. A posição do Brasil é cômoda, seja porque as usinas de Angra sugerem segurança a toda prova, seja porque fornecem apenas 3% da energia total que consumimos.
Babel no plano econômico: uns vaticinam que o Brasil perderá com suposta momentânea incapacidade de o Japão transformar em aço o minério de ferro que lhe exporta. Ou que possível suspensão do fornecimento de autopeças para montadoras brasileiras, igualmente, deixaria de contribuir para a sustentação de nossa economia. E há quem rebata, argumentando que o estóico trabalho de reconstrução demandará ainda mais importações de produtos brasileiros.
O choque de advinhações é insignificante diante dos problemas dramáticos que o desastre apresenta. Pessoalmente, acredito que as repercussões para a economia mundial serão limitadas. Menores que o imbroglio do mundo árabe, que afeta diretamente os preços do petróleo e atrai mais inflação.
Mas o quadro internacional está ainda mais incerto. Aqui, ele se soma à crise fiscal interna, que serviu para fazer Lula popular e eleger Dilma Rosseff.
*o autor é Diplomata. Foi líder do Governo Fernando Henrique, Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência e líder do PSDB no Senado.