Nessa quarta-feira, 4 de março, no auditório Freitas Nobre, da Câmara dos Deputados, tive a oportunidade de presidir, como líder da bancada do Partido Socialista Brasileiro, um evento de grande significado político: a conferência do deputado Ciro Gomes intitulada “Crise Econômica: oportunidades para um novo modelo de desenvolvimento”. Num momento em que gigantes das finanças e da indústria nos países ricos expõem seus pés de barro e a atividade econômica mundial se retrai, revertendo expectativas, derrubando dogmas e gerando desorientação, a instigante análise de Ciro não somente investigou as causas do fenômeno, mas também esclareceu seu impacto sobre a economia brasileira e apontou os caminhos que podem levar nosso país a uma inserção mais favorável no cenário internacional.
Com desenvoltura e brilhantismo, Ciro pôs a nu o esgotamento do modelo neoliberal, calcado no encolhimento do Estado e na suposição de que a auto-regulação do mercado é capaz de dar conta do conjunto das questões econômicas e sociais. Ele lembrou, com toda a pertinência, uma obviedade tantas vezes esquecida: embora o mercado seja o instrumento mais eficiente para a alocação de recursos escassos, a felicidade é mais ampla, complexa e importante dos que eventuais lucros e rendimentos – um sucesso econômico pode perfeitamente representar um tremendo fracasso humano.
Desdobrando o argumento, sustentou que um partido progressista como o PSB tem a obrigação de defender o que ele chamou de uma “reespiritualização” da vida, porque o neoliberalismo contribuiu para tornar ainda mais poderosa, mundo afora, a idéia de que o objetivo maior da existência é atingir um certo padrão de renda e consumo. Ocorre, porém, como ele ressaltou, que a maioria dos povos e países não têm condições de ascender a esse padrão, o que acaba incrementando a violência, tanto em âmbito doméstico quanto global. Isso sem falar nos limites ambientais do planeta; em suas palavras, “se a China um dia chegar a ter dois automóveis para cada três habitantes, como atualmente acontece nos Estados Unidos, a humanidade simplesmente vai morrer”.
Ciro teceu elogios ao governo Lula, sobretudo ao seu primeiro mandato, quando o país reverteu a tendência herdada dos anos FHC de produzir déficits substanciais em transações correntes. Essa mudança permitiu a constituição de sólidas reservas internacionais, responsáveis pelo fato de que o Brasil, pela primeira vez na história, não “quebrou” nem vai “quebrar” diante de uma crise internacional. Outro justo reconhecimento prestado por Ciro ao presidente Lula foi a menção à expressiva recuperação do poder de compra do salário mínimo, que chegou a quase triplicar em relação ao valores vigentes no governo do PSDB.
Mesmo assim, ele chamou atenção para uma questão primordial: embora não vá nos levar ao fundo do poço, esta crise já está causando e vai continuar a causar danos de considerável monta a nossa economia. Diante disso, alertou para a necessidade de estruturação de um novo modelo de desenvolvimento para o país, sustentado em três pilares: a) formação de megaempreendimentos voltados à produção em escala e ao barateamento dos custos unitários de bens e serviços, com vistas ao aumento da competitividade do Brasil no comércio internacional; b) investimento maciço em inovação tecnológica e qualificação de pessoal; c) financiamento do crescimento do Produto Interno Bruto por meio de poupança interna.
A palestra de Ciro foi o primeiro passo de uma longa caminhada. A partir de agora, ele vai percorrer o território nacional, expondo suas idéias e ouvindo as considerações dos brasileiros – nas universidades, nos sindicatos, nas associações, nas ruas, no meio rural. O debate acerca das questões fundamentais que dizem respeito à construção de um Brasil mais justo e próspero, precisa ser retomado com a devida qualidade. Uma liderança proeminente como Ciro Gomes, pela sua larga experiência político-administrativa e densidade intelectual, reúne todas as credenciais para oferecer ao povo brasileiro uma inestimável contribuição.
O Deputado Federal Rodrigo Rollemberg (DF) é líder do PSB na Câmara dos Deputados