Praticamente toda a grande mídia brasileira, dos comentaristas de rádio e TV aos articulistas dos jornais, veicularam na última semana matérias que seguem a toada contra os gastos públicos do governo e a campanha contra o aumento do salário mínimo e dos funcionários públicos. A ponto, até, de um dos grandes jornais paulistas, a Folha de S.Paulo, ter dado em manchete que o governo recorre as estatais para cobrir suas despesas.
Na prática, o que escondem de seus leitores é que o governo federal perdeu a CPMF e com ela R$ 40 bilhões (pagos por apenas 5% da população) compensados apenas em parte, 25%, pelo aumento do IOF. Além da perda de mais R$30 bilhões em desonerações concedidas para sustentar o crescimento e evitar uma queda ainda maior dos índices de emprego e da queda da arrecadação em decorrência da retração da economia. Escondem o acerto das desonerações, comprovado na retomada de postos de trabalho, do crescimento (ainda lento) da indústria e na certeza de que podemos ter, ainda esse ano, um crescimento positivo de 1% e acima de 4% em 2010.
Ao chamar nas primeiras páginas, como manchetes, matérias sobre a ampliação das despesas com o funcionalismo pelo governo federal, os jornais querem seguir na linha de estigmatizar o aumento dos gastos públicos, indispensáveis para evitar uma recessão maior. Preferem taxar o governo de irresponsável e insistir na tecla do aumento de gastos com pessoal, ao invés de falar dos investimentos que na prática dobraram durante os anos Lula. Apenas em 2008, eles totalizam 28,3 bilhões de reais, incluindo os dividendos pagos pelas estatais, além dos recursos do orçamento da União. Isso sem incluir os investimentos das empresas estatais (que em 2008, chegaram a R$ 53,2 bilhões – 2,8% do PIB) e os das empresas privadas que compõem o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Esta sim é uma mudança radical se comparada com os anos Fernando Henrique Cardoso.
Infelizmente, nessa toada, a Folha de S.Paulo ainda tentou semear o pânico e o pessimismo. Projetou um déficit orçamentário para 2010 em diante, sem levar em conta a retomada do crescimento e da arrecadação, e o fim das desonerações provisórias para a indústria. Nisso, o mais grave é a fraude, o jogo de palavras e de dados contábeis que o jornal cometeu ao apresentar dados de seis meses como se fossem do ano todo! Calculou os R$ 13,3 bilhões citados em sua matéria tomando como base junho de 2008, quando o Tesouro projeta para o ano de 2009, os mesmos 13,7 bilhões, apenas 600 milhões acima dos lucros de 2008.
Mas a realidade é outra. Com a queda dos juros da taxa básica Selic – que remunera parte da dívida interna – o governo tem margem para reduzir o superávit, sustentar os investimentos e gastos, e mesmo com a queda da arrecadação, o fim da CPMF e as desonerações, pagar o serviço da dívida interna e manter sua relação com o PIB e o déficit nominal dentro dos padrões dos últimos anos.
Daí a confiança na economia brasileira expressa no Risco Brasil, na entrada de investimentos externos, nos fundamentos de nossa economia. Não podemos esquecer que dada a gravidade da crise internacional, não seria nada absurdo ou arriscado o Brasil dobrar seu déficit nominal de 1,6% para 3,2%, ou mesmo aumentar sua dívida interna, nesse momento em que todo o mundo desenvolvido, praticamente dobra a sua e faz déficits nominais de até 10% do PIB.
Esse tipo de campanha dos jornais só demonstra a cegueira ideológica e o sentido partidário e de oposição da campanha movida por setores da mídia contra o aumento dos gastos públicos no Brasil do governo Lula.
José Dirceu é ex-ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República