Uma campanha contra o blog Fatos e Dados, assunto dos mais explorados essa semana, mostrou que a pretensão da grande mídia não tem limites. Ela é capaz de tudo para manter o monopólio da informação que detém de fato, e das verbas de publicidade do governo federal das quais recebeu a maior fatia durante décadas.
A Associação Nacional dos Jornais (ANJ) elaborou uma nota de repúdio a iniciativa da PETROBRAS de divulgar no seu blog todas as informações pedidas pelos jornalistas e jornais a respeito da empresa. Nada surpreendente! Querem preservar o método do jornalismo de escândalo, que consiste em publicar uma reportagem como denúncia e a partir dela iniciar um processo de investigação seja por CPIs, seja pelo Ministério Público.
Com seu blog, ao antecipar as informações, a PETROBRAS tira da mídia uma arma que tem sido usada quando interessa a esta e a seus aliados e apenas contra o governo Lula e o PT. Nunca contra a oposição.
Basta ver como as acusações contra os tucanos, governador-presidenciável José Serra, governadora gaúcha Yeda Crusius, e contra o PSDB, em geral – e o de São Paulo, em particular – só aparecem escondidas em pequenos títulos e textos e desaparecem rapidamente da imprensa.
Explica-se, aí, o medo que a grande imprensa tem dos blogs e da internet que dão a todos os cidadãos e cidadãs, e às empresas, a oportunidade democrática de prestar informações, e divulgarem a sua versão dos fatos com dados e elementos para a cidadania julgar. A tentativa da grande mídia e da ANJ de censurar a PETROBRAS é um ato de violência e uma ilegalidade flagrantes. A Associação derrama lágrimas de crocodilo ao acusar a Petrobrás de intimidar jornais e jornalistas com seu blog. A questão é outra: com este os veículos perdem um instrumento de luta política.
O pavor da grande imprensa e de seus aliados da oposição é outro: é o da concorrência dos blogs e da internet, da democratização da mídia. Blogs que qualquer empresa ou cidadão podem ter colocam em xeque o monopólio da informação. Não vamos nos iludir: o que está em jogo é esse monopólio e a força que ele dá aos proprietários de órgãos de comunicação e a alguns jornalistas para tentar controlar o poder político e as verbas publicitárias das empresas e dos governos.
É uma disputa pelo poder na sociedade. Essa ofensiva da grande imprensa contra os blogs e a internet não é de agora. Iniciou-se há tempos. Só intensificou-se nas duas últimas semanas com a criação do blog da Petrobrás. Seu surgimento desencadeou a publicação de editoriais e artigos irados sobre o assunto, com os quais pretenderam denunciar, também, um pretenso “Bolsa Mídia” que teria sido criado na gestão Lula. E que nada mais é do que a descentralização e regionalização das informações e das verbas publicitárias pelo atual governo.
O “Bolsa Mídia” não passa da simples quebra da concentração de informações e das verbas da publicidade oficial apenas para os grandes veículos de comunicação. Nesse governo, notícias e verbas passaram a ser fornecidas à mídia de todo o país, o que desagradou aos jornalões e redes de TV. Estão aí as razões do choro e ranger de dentes. A partir dessa história do “Bolsa Mídia” passaram a atacar o blog da Petrobrás e os outros independentes como se fossem sucursais do Planalto.
O próximo passo da ANJ e da Associação Brasileira de Empresas de Rádio e TV (ABERT), não tenham dúvidas será tentar controlar e censurar a internet. Nesse caminho, já têm o instrumento à mão, o substitutivo do deputado Bispo Gê Tenuta (DEM-SP) ao PL/29, em tramitação nas comissões da Câmara. A proposta trata da regulamentação da TV paga e exclui da normatização os conteúdos audiovisuais distribuídos por meio da rede mundial de computadores, mas impõe uma série de restrições à internet. Com elas pretendem impedir a democratização da informação proporcionada pela convergência das mídias.
Aliás, é o que já vêm fazendo, a pretexto de defender a cultura nacional e o controle da mídia por brasileiros natos. O que não fizeram antes, nunca. Lembrem-se, não defenderam esse controle para nenhum setor de nossa economia. A começar pela Petrobras que todos pretendiam privatizada – PSDB, DEM, era FHC, e mídia à frente.
José Dirceu é ex-ministro-chefe da Casa Civil