Lula e a bomba relógio das contas públicas

Lord Keynes, o ressuscitado economista inglês que concebeu a solução estatal para as crises cíclicas do capitalismo é conhecido, também, pela frase que cunhou em resposta à pergunta sobre o rombo nas contas públicas, provocado pelo inchaço do Estado e pelos pesados investimentos em políticas públicas de combate à crise. “No longo prazo estaremos todos mortos”, respondeu ele ao ser inquirido sobre o problema.

Na teoria Keynes imaginava que a entrada do Estado na economia, não apenas com regulador, mas como empreendedor, levaria à retomada do crescimento e, com isso, à recuperação da arrecadação tributária e à superação do déficit público.

Na prática a teoria é outra. O inchaço do Estado, com de qualquer estrutura burocrática, com seus tentáculos e custos correlatos, não se desfaz na mesma proporção e velocidade com que se faz. A crise passa e os custos ficam para as futuras gerações.

Lord Keynes, como evidencia sua conhecida frase, não estava preocupado com as futuras gerações, mas sim, com a saída imediata da crise. Lula também não parece preocupado com as gerações futuras, mas sim, com a salvação de seus índices de popularidade e com a eleição de Dilma.

Convém a Lula que seu sucessor(a), seja ele Serra, ou ela, Dilma, se deem mal no cargo. Passar o bastão ao sucessor(a) deixando o eleitor com saudades de seu governo não é mau negócio para Lula. Afinal, com isso, fica aberta a porta para sua volta em 2014, ou, no mínimo, para que Lula seja lembrado como o pai dos pobres do século XXI, assim Getúlio Vargas o é, em relação aos pobres do século XX.

Lula, até aqui, foi um homem de sorte. O ex-presidente FHC pode ser criticado sob muitos aspectos, mas, se há algo que essa crise evidenciou, é que Lula deve muito ao “neoliberalismo” e à herança deixada pelo governo que o antecedeu.

Boa parte da bonança experimentada pelo atual presidente se deve, entre outras coisas, por um lado, à onda de crescimento econômico mundial, criada pelo ciclo de expansão capitalista gerada pelas políticas econômicas liberais das últimas décadas do século XX. A adesão da China ao capitalismo tem parcela expressiva de impacto sobre esse ciclo virtuoso da economia mundial que agora se encerra.

Por outro lado, Lula deve sua sorte às obras de FHC, tais como o sucesso da política de estabilização monetária; da política de privatização das telecomunicações; da Lei da Responsabilidade Fiscal; e, sabe-se agora, do antes combatido PROER, o programa de reestruturação do sistema bancário brasileiro, tão combatido pelo PT, e que hoje permite a Lula arrotar ao mundo a saúde dos nossos bancos.

Há muita retórica vazia e propaganda por trás da anunciada distribuição de dinheiro público que o governo Lula patrocina. Mas, há, também, farta distribuição de dinheiro público para os apaniguados do presidente, por trás da retórica de Lula e da propaganda do seu governo.

Em meio à crise, a esquerda se refestela e Lord Mantega avança politicamente sobre o poder de contenção que o atual presidente do Banco Central, e futuro candidato a governador de Goiás, Henrique Meirelles (ex-deputado eleito pelo PSDB), tinha para preservar as bases da política econômica que Lula herdou de FHC e de seu competente ministro da Fazenda, Pedro Malan.

Cavalgando uma conjuntura econômica favorável e se beneficiando de sucessivos recordes de arrecadação tributária (essa sim, herança maldita de FHC), foi fácil a Lula revelar “responsabilidade fiscal”. Preservar o equilíbrio fiscal aumentando gastos e inchando o Estado enquanto a arrecadação cresce, é fácil.

Mas, a crise já bate à nossa carteira e leva os empregos no Brasil de Lula, também. O ponteiro das contas públicas brasileiras começa a pender para o vermelho. Aproxima-se a hora de verdade para Lula.

 

Paulo G. M. Moura é graduado em Ciências Sociais e Mestre em Ciência Política pela UFRGS; Doutor em Comunicação Social pela PUC-RS e professor dos cursos de graduação e pós-graduação em Ciência Política da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Conheça o site do professor Paulo Moura.

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