O Vice-Prefeito de Manaus, apesar de co-apresentador do Programa Canal Livre — estrutura a partir da qual foi montado todo o esquema criminoso investigado pela Polícia e pela Justiça a partir das denúncias do ex-policial Moa –, até agora vinha passando ao largo das notícias sobre o caso. No entanto, o depoimento do ex-policial Esdras o traz para o centro das investigações após a denúncia de encomendar a morte de uma pessoa.
Sem esclarecer as acusações, o acusado tratou de desqualificar o depoimento do denunciante, afirmando que o mesmo era “doido” porque havia sido aposentado da Polícia Militar com diagnóstico de esquizofrenia.
No auge do Canal Livre, os “Irmãos Coragem” investigavam, processavam, julgavam e condenavam. Diante da qualquer denúncia, não importava se o denunciante era “doido” ou não, desde que o denunciado fosse pobre, mostravam o rosto do que eles qualificavam como bandido, galeroso e safado.
Agora, acuado, com o irmão e o sobrinho envolvidos em processo que apura crimes como tráfico de entorpecentes, homicídio, formação de quadrilha e vendo seu nome caminhar para dentro do processo, após as denúncias do ex-PM, tenta adotar a mesma estratégia que tanto deu certo no Canal Livre, ou seja, na nova roupagem, acusa o denunciante de esquizofrênico e doido, para evitar explicações sobre o mérito da denúncia.
Fora o conteúdo absurdamente preconceituoso e desinformado do “Irmão Coragem” sobre a doença, que ofende pacientes e famílias, resta a ignorância sobre os sintomas da esquizofrenia.
Um esquizofrênico não pode permanecer na PM, mas nada o impede de que preste um depoimento judicial, desde que esteja fora do quadro de surto, e, obviamente, nenhum juiz aceitaria o depoimento de um incapaz como prova. Além disso, o depoimento do ex-PM não demonstra nenhuma desordem de pensamento que o desqualifique.
Ao invés de acusar o denunciante, talvez o melhor caminho para a defesa dos “Coragem” fosse prestar esclarecimentos à população ou então alegar um quadro de esquizofrenia em que todos os crimes que lhes são imputados tivessem sido cometidos em um quadro de surto esquizofrênico. Talvez alguns acreditassem.
Marcelo Ramos é advogado e vereador pelo PCdoB. www.vereadormarceloramos.com.br