Nesta semana, o mundo se reuniu em Copenhague para pensar os problemas do século XXI.
Mas os políticos presentes estavam presos aos problemas do século XX, e até mais atrás.
A ideia era pensar soluções para a vida no planeta nos próximos cem anos, mas cada político representava seus eleitores, não as gerações futuras, e pensava somente nas próximas eleições.
As catástrofes que ameaçam a humanidade adiante não cabem dentro de país nenhum, nem se manifestarão antes das próximas eleições.
Prisioneiros de cada país e do horizonte da próxima eleição, a política e nós, políticos, estamos despreparados para enfrentarmos as tragédias adiante.
Os problemas ficaram globais, mas a política ficou provinciana. O horizonte de tempo ficou centenário, mas a política continua limitada aos quatro anos à frente.
Lamentavelmente, a globalização apequenou os políticos.
Há até algumas décadas, eles faziam discursos internacionais – pelo socialismo, capitalismo, independência, desenvolvimento -, falavam para o mundo defendendo suas ideias.
Agora, falam apenas para seus eleitores, conforme a orientação dos marqueteiros, baseados nas pesquisas de opinião.
Na verdade, a globalização transformou os líderes mundiais do passado em gerentes comerciais de seus respectivos países.
Para encontrarmos caminhos para cada país, precisaremos encontrar caminhos para o mundo inteiro. E, para tanto, precisaremos de um tipo de político que ainda não temos.
Pelo menos cinco desafios deverão ser enfrentados pela política e pelos políticos nos próximos anos e décadas, para que eles estejam em condições de conduzir os destinos de seus países e da humanidade.
O primeiro desafio é espacial: ser nacional e global, ser capaz de atender às aspirações locais de seus eleitores, sem perder de vista a necessidade de sacrifícios locais em benefício de um planeta equilibrado no futuro.
Esse é um desafio para o qual a geração sentada em Copenhague não parece preparada.
O segundo desafio é temporal: ganhar votos de eleitores imediatistas e ao mesmo tempo olhar para o longo prazo.
Combinar o horizonte de décadas adiante, com o horizonte dos meses até as eleições seguintes.
O terceiro desafio é atravessar a fronteira civilizatória: ir além do debate entre o social e o econômico, e formular uma proposta alternativa para a próxima civilização.
Em vez de apenas propor como produzir mais e distribuir melhor, pensar no que produzir e em como produzir.
Formular novos propósitos: mais tempo livre, mais produtos públicos, nova composição do produto, nova matriz de energia.
Isso vai exigir trocar a busca pelo crescimento pela busca de outro tipo de objetivo, que pode implicar inclusive um decrescimento econômico que traga aumento na qualidade de vida.
O quarto desafio é implícito à atividade política: como se relacionar com o eleitor.
O político das próximas décadas não deve ser apenas o boneco ventrículo dos marqueteiros e da opinião pública.
Terá de se arriscar a propor o novo, mesmo sabendo que diminuem suas chances de ganhar eleições.
Voltou o tempo do Estadista, mas desta vez com sentimento planetário. Além disso, o político não pode se dar ao luxo de ouvir os eleitores apenas por meio da mídia.
A comunicação tem que ser a cada minuto, pelos novos meios de comunicação instantânea.
Finalmente, o quinto desafio é de mentalidade.
O político do futuro deve ser um construtor da mentalidade que permitirá um salto: da atual civilização do consumo depredador privado para a mentalidade do equilíbrio ecológico, da satisfação com o uso de bens públicos; da substituição da divindade do consumo pelo reino do bem-estar.
E o caminho para mudar a mentalidade é uma revolução educacional em escala global.
Todos na escola, mas em uma nova escola.
Pena que não haja muitas chances de que esses e outros desafios sejam enfrentados, diante da mediocridade ideológica provocada pela globalização atual.
Por isso, não dá para sermos otimistas em Copenhague. Nossos líderes ainda não entenderam o que lá estava em jogo.
Cristovam Buarque é senador pelo PDT-DF