Arthur pede demissão de ex-diretores

A época dos panos quentes no Senado acabou, advertiu, hoje, da tribuna, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), na presença do seu presidente, José Sarney, de quem cobrou medidas concretas. Ele permaneceu na tribuna por mais de duas horas e meia, recebendo vários apartes de solidariedade. No fim, Sarney disse que tem tomado providências e que reunirá a Mesa para discutir outras medidas.

O líder pediu concretamente a demissão, “a bem do serviço público”, do ex-diretor-geral Agaciel Maia, e do ex-diretor de Recursos Humanos, João Carlos Zoghbi. Segundo o senador, esses funcionários levaram para casa, em pen drives, dados sobre senadores, e vão soltando “drops” para a imprensa, a fim de chantagear senadores. “Estabeleceu-se – disse – certo silêncio neste Senado, porque cada um imagina, até sem ter cometido crime algum, que seu nome pode ser o próximo a aparecer na imprensa.”

Arthur Virgílio acrescentou que tentaram fazer isso com ele. “Não faço negócio com chantagista”, afirmou. “Portanto, estou às ordens do Sr. Agaciel para literalmente o que ele quiser. O que eu quero está claro: demiti-lo, vê-lo preso, se possível.”

O líder tucano disse não ter dúvida, porém, de que “Agaciel Maia não praticou esses crimes todos sozinho”. “Tenho a convicção – assinalou – de que tem senador por trás dele. Temos de saber isso, sob pena de estarmos sendo incompletos, covardes e oportunistas.”

O senador iniciou o discurso lembrando ter sido ele quem deflagrou isso tudo. Foi quando, nas eleições para a Mesa do Senado, avisou Sarney, em plenário, de que não contaria com o apoio do PSDB porque – Arthur Virgílio estava certo disso – não tiraria Agaciel Maia da diretoria-geral. Essa era exigência da bancada para se fazer a reforma administrativa na Casa.

“Atirei no que vi e acertei no que não via”, acrescentou, porque a partir daí se foi puxando o fio do novelo, com revelações sucessivas de irregularidades ocorridas no Senado sob a gestão daqueles ex-diretores.

Disse ter-se formado na Casa “uma quadrilha de ladrões” e criticou a forma pela qual o presidente Sarney vem conduzindo a questão. Virgílio vê “um clima de abafa, de não punir”.

Prosseguindo, alertou que tudo isso vem desmoralizando uma instituição que é um pilar da democracia. “A democracia brasileira – frisou – tem de sobreviver. V.Exª, senador Sarney, necessariamente não tem de sobreviver; a democracia, sim. O Sr. Agaciel tem de perecer como homem público.”

Arthur Virgílio criticou também quem “fez carreira de ético profissional”. Isso, para ele, acabou. É o fim da linha. “A ética genérica – disse – morreu. Essa história de falar de ética sem dar os nomes de quem roubou, isso acabou. Esse ético surfa de maneira antiética na política, porque não arranja inimigos, não sofre ameaças. Eu dou nomes, como estou fazendo agora.”

Para concluir, o líder tucano conclamou o presidente Sarney a “romper todo e qualquer laço com essa camarilha”. “Se V.Exª revelar que não pode – enfatizou – ou demonstrar por atos, por omissões, que não pode, perderá as condições de governar esta Casa. Se V.Exª romper e tomar as atitudes que levem a Casa outra vez ao respeito da opinião pública, estarei ao seu lado.”

O senador disse considerar um tanto evasivas as declarações de Sarney de que poderia levar ao Supremo Tribunal Federal senadores que cometessem faltas. A seu ver, o lugar para esses senadores é o Conselho de Ética. “Eu não hesitaria – advertiu – e não hesitarei em colocar o nome de V.Exª no Conselho de Ética se sentir que essa é a salvação da instituição.”