Paulo José Cunha, jornalista, professor e escritor
Miga, sua lôka, prestenção: se não aparecer nada de novo esse Bolsonaro vai ganhar a eleição, sabia? Nããão, não é exagero não, pode acreditar: vai ganhar, anota o que eu tô dizendo! E esse povo todo vai ficar chupando o dedo com cara de Madalena arrependida. Quando acordarem, Inês é morta, a vaca se afogou no brejo e não vai ter nem cerveja quente pra beber. Nem quente! Lá no salão aquelas monas não me levam a sério. Têm a coragem – a coragem – de rir na minha cara quando eu digo que elas precisam analisar direito o quadro pra escolher o candidato em que vão votar. “Que analisar mané de quadro! Deixa chegar a hora, mulher, aí a gente vê! Vou lá ficar analisando é nadica de coisa nenhuma! Sei lá. Põe aí uma cor diferente que hoje eu quero a-rra-zar na balada!”
É assim que aquelas monas falam. Eu fico de cara com quem não observa os sinais. Os sinais, miga! Não tem nada de esoterismo não! Não! Os sinais que eu falo estão é nesse quadro político aí. Se reparar, vai ver que não apareceu até agora nenhum candidato com alguma proposta séria, concreta, pra coisa al-gu-ma! Nada! É só conchavo daqui, chaveco dali, pé-de-ouvido… Blá-blá-blá? Isso mesmo, miga, isso mesmo: só blá-blá-blá. Os jornais, os blogs e os programas de televisão, principalmente esses que passam meio-dia, não fazem outra coisa além de fofoca política. Uma fofocaiada sem fim. É o fulaninho que pode se aliar ao cicraninho se o beltraninho não fizer isso e aquilo…
Exatamente! Preguiça! Fofoca, miga! Bando de jornalistas pre-gui-ço-sos! Fofoqueiros! Ficam o dia todo nessa conversinha aí, nesse disse-me-disse, e reportagem boa mesmo, nada! Eu faço é uma aposta se tem alguém interessado nessas fofocas de políticos aí. Tem é nada! Só os políticos mesmo é que se interessam por isso. Isso é preguiça: pre-gui-ça de ir pra rua fazer reportagem que preste. Mostrar os buracos do asfalto. A falta de vacina. De como escapar da crise com ideias criativas, essas coisas importantes. Depois falam mal de mulher, né? Dizem que a gente passa o dia no whatsupp, fazendo selfie ou de fofoca com as amigas e os bofes no salão de beleza. E eles, fazem o quê?, me diz, mulher, o quê mermo é que esses jornalistas que ficam falando horas sobre essas intrigas fazem nesses programas? Depois, se queixam de que os jornais estão falindo, que todo dia tem demissão… Pudera! Não têm coragem de tirar a bunda da cadeira e olhar pela janela pra ver o que está acontecendo na rua! É o tal do jornalismo do zap, do face, do ctrl-c-ctrl-v! Jornalistas? Que nada: tecladistas de celular, isso sim. Vou fazer um ponytail porque me deu calor aqui no cangote. Arre! É, ponytail, rabo-de-cavalo, não conhecia? Em inglês fica mais chique, néaaah?
Exatamente. Exatamente. Como não tem nenhum candidato com proposta concreta, um cara como o Bolsonaro e aquelas coisas bem simples que ele fala terminam seduzindo quem não está atento, quem não analisa o quadro com cuidado, quem não se informa direito… Eu sei que dá trabalho, miga. Dá mesmo, dá. Mas, se não tomar cuidado, a vaca vai pro brejo. Informação séria? Pois lhe digo: na própria internet a gente acha. Basta sair desses blogs idiotas, dessas piadas bestas, dessas notícias mentirosas que ninguém sabe de onde saíram, e assistir a alguma coisa que preste. Outro dia mesmo eu vi uma notícia importante do Nizan Guanaes, aquele publicitário famoso, no site do Valor Econômico, dizendo que o Bolsonaro é quem vai ganhar a eleição. Mulher, chega eu quase caí da cadeira. Ele é sério, já li outras coisas dele. Eu arrepiei até os… Ah, deixa pra lá. Pior é que ele explicou porque é que acha que ele vai ganhar. Disse que o Bolsonaro é o único que “engaja” a população. E é verdade! Engaja porque faz propostas que todo mundo entende. Não, querida: o Nizan é contra o Bolsonaro. Não quer ver ele nem pintado! Mas diz que enquanto os outros ficam aí nesse papo de reforma trabalhista, de reforma da previdência, reforma de… Nããão! O Nizan acha essas reformas importantes, sim, mas que dona Maria, que tá com a casa cercada de bandido e não consegue dar uma alimentação que preste aos filhos, quer saber é pra onde ela vai, não de que forma ela vai, entendeu, mana? Sem enrolação. Enquanto isso, o Bolsonaro vai ganhando terreno. Porque um aqui escuta o que ele diz, entende, conta pra outro ali, que conta pra outro acolá… E vai indo, vai indo. Éééééé…! Frases bem curtinhas, as dele: -Vou dar uma arma pra cada um se defender! – Vou autorizar a polícia a matar se for preciso! – Vou botar feijão na mesa dos pobres! – Vou fazer isso! – Vou fazer aquilo! Todo mundo entende de cara. Vê lá se o povão quer saber de alguém falando que precisa diminuir o tamanho do estado, que a dívida pública está sufocando a economia e impedindo os investimentos, que a política externa está equivocada… Faz é mudar de canal pra ouvir pregação de pastor ou dupla de sertanejo universitário. Dá vontade de dizer: – Fala que nem gente, candidato, desce daí, conversa comigo!
Pois é: e pra completar, os jornalistas passam o dia repetindo o que escutam. Botam no jornal o que ouviram e anotaram. E que nem eles mesmos entenderam! Não me lembro da última vez que vi um jornalista tentando explicar essa crise de um jeito que qualquer um entenda. Que dona Maria entenda. Pior: quando aparece um jornalista falando na televisão é só pra gritar, bater na mesa, dizer que é corajoso e que fala tudo mesmo, porque eu sou é macho, que ninguém me segura, ninguém tampa a minha boca, que aqui é jornalismo-verdade, que aqui eu mato a cobra e mostro o pau, essas coisas. E que a violência está descontrolada, e que o custo de vida não para de subir, e que é preciso aparecer um governante macho que acabe com essa crise. Verdade, mulher, exatamente: muitos deles, quando vão entrevistar o prefeito ou o governador, mudam a prosa, ficam murchinhos, de tapinha no ombro, água gelada, fique à vontade, o senhor aceita um cafezinho? Tudo papo. Nem matam a cobra nem mostram o pau. São poucos os que têm peito pra botar esse povo na parede.
Desse jeito, os jornais vão continuar perdendo leitores; as tevês, telespectadores; e as rádios, perdendo ouvintes. Aí eles vão entender – lá na panela da casa deles – o que diabo é crise. E o Bolsonaro, ó, todo ancho, surfando! Onde? Na crise!
Eu também, eu também: pre-o-cu-pa-dé-rri-ma, lou-qué-rri-ma, a-ssus-ta-dé-rri-ma! Mas tu me conhece, mulher, e sabe que eu falo mermo. Ah, falo. Ninguém pode dizer que eu não avisei. Eu quebro o maxilar mas não borro meu batom!
Pronto, falei.