Por Marta Suplicy
O mundo está ficando realmente perigoso. Não falo só dos assaltos, dos muros que tornam as casas verdadeiras “fortalezas”, dos irresponsáveis que provocam violências. Não falo somente das catástrofes ambientais e das crises financeiras mundiais.
O grande perigo que enfrentamos está dentro de nós. Está em nossos sentimentos, opiniões e crenças. Não que não devamos tê-los ou que devamos reprimi-los. Ao contrário, o que é uma pessoa sem seus valores e convicções?
É natural que as pessoas se reconheçam, se agrupem e convivam buscando o semelhante. O problema é quando não respeitamos o que é diferente. Quando se persegue, humilha e violenta o outro, que não se comporta como a gente pensa ou quer.
Temos valores pessoais, mas não o direito de agredir física ou emocionalmente os que não compartilham deles.
O que transforma o que é nobre em algo vil são os sentimentos menores. O amor que se transforma em posse, ódio, gerando violência e assassinatos. O orgulho e a autoafirmação profissional agindo para justificar a ganância e a corrupção. A defesa de crenças fundadas na caridade e no perdão que se transforma em preconceito e intolerância.
A violência contra a mulher e o preconceito racial são fatos concretos. As inúmeras ocorrências policiais e os casos cotidianos justificaram a aprovação de uma legislação do porte da Lei Maria da Penha e da lei de combate ao racismo.
Ainda assim, alguns se sentem ofendidos e ameaçados pela mera existência dessas leis. Sentem-se inseguros frente a manifestações e medidas que estendam a esses grupos os direitos que deveriam ser de todos. A insegurança cega a razão. No passado, a Lei Maria da Penha foi questionada por não garantir a mesma proteção ao homem.
Hoje, discutimos no Brasil a necessidade de uma legislação que proteja a minoria homossexual de crimes contra a homofobia, algo ainda não bem compreendido, apesar dos episódios que temos assistido. Não se trata de legislar para conferir privilégios, mas de proteger vidas e conscientizar cidadania e respeito.
Parece, no entanto, que, de repente, a grande maioria cujos direitos sempre foram assegurados e, até mesmo, prevaleceram sobre os das minorias passam a gritar e exigir seus direitos como se fossem grupos sociais fragilizados.
Agora, ainda vem o Dia do Orgulho Heterossexual! Temos de refletir sobre a construção de direitos, tarefa árdua. É essa a luta que fortalece a democracia.
Fundamentalismo é extremamente perigoso para corações e mentes. Desestrutura famílias, cria ódio. Não constrói. Não queremos um Brasil assim. Queremos um Brasil que respeite a diversidade e as posições de cada um.