Amazônia via Amazônia

Por Osíris Silva

A ideia de desenvolver a Amazônia intensificando o uso não florestal e agregando valor ao produto florestal é antiga. Pesquisadores de renome internacional como Charles Clement e Niro Higuchi, do INPA; Alfredo Homma, da Embrapa Amazônia Oriental, e a geógrafa e amazonóloga Bertha Becker, dentre tantos outros luminares têm desenvolvido teses e proposições basilares a respeito. Inúmeros livros e estudos especializados publicados tornaram-se referenciais em qualquer dimensão que se pretenda estudar e melhor compreender a Amazônia. Muitos deles larga e frequentemente citados nesta coluna. Precisamos de fato de ajuda externa para compreender a região?

Professor titular do Departamento de Geografia e Estudos Regionais da Universidade de Miami,

o paraense José Maria Cardoso da Silva, graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Pará (1986) e doutor em Biologia pela University of Copenhagen, Dinamarca (1995). Ex-coordenador do Programa de Mestrado em Zoologia do Museu Goeldi, de Belém, Cardoso da Silva é um dos autores do livro “PAN-AMAZÔNIA, Visão Histórica, Perspectivas de Integração e Crescimento”, 2011, do qual, junto com o pesquisador Alfredo Homma, somos autores e coordenadores da obra. Seu estudo – “A conservação da biodiversidade como estratégia competitiva para a a Amazônia no antropoceno” -, desvenda enigmas e equaciona soluções sobre o bioma.

Lamentavelmente, a crise porque passa o sistema nacional de C&T, vítima de cortes lineares de verbas que o governo Federal vem aplicando há mais de 10 anos na Amazônia e em todo o país está estrangulando as instituições e os seus gestores não fazem mais nada a não ser correr atrás de migalhas para pagar contas. Nesta situação, conforme Cardoso da Silva, não há como inovar nem desenvolver sistemas que possam atender às idiossincrasias regionais. Dada a fragilidade de sua biodiversidade, a Amazônia requer atenção especial, programas e projetos ajustados a essa condição. Com absoluta segurança, pondera, o desenvolvimento sustentável é a única via para salvaguardar a biodiversidade regional. Insta-se que o governo assim também entenda e dispense prioridade absoluta à Amazônia na qualidade de solução, não de problema, para o  Brasil.

Obrigatoriamente, segundo José Maria Silva, os centros urbanos devem se tornar importantes no esforço de promoção do desenvolvimento tecnológico e produção sustentável. Investimentos públicos para criar e manter universidades e institutos de pesquisa científica e tecnologia que formem novos recursos humanos e gerem inovação contínua são indispensáveis. Vai mais além: o conceito de agrupar as cidades em clusters estratégicos voltados para o beneficiamento dos produtos da região e prestação de serviços poderá ensejar a criação da sinergia necessária para gerar emprego, renda e dinamismo econômico. Essencial é que estes clusters de produção adotem o conceito de economia circular (World Economic Forum, 2014) desde o seu design tendo em vista tornar-se marca forte de sustentabilidade para os produtos da região. Coerente à lógica pan-amazônica, ressalta, os países podem trabalhar juntos para dinamizar as cidades-irmãs nas fronteiras (Leticia- Iquitos -Tabatinga, Bonfim-Lethem) e assim aumentar a sinergia positiva dos seus investimentos.

Na verdade, insiste Cardoso da Silva, qualquer programa ousado de desenvolvimento para a Amazônia requer lideranças políticas visionárias e comprometidas. Felizmente, o conceito de sustentabilidade já é parte do discurso da nova geração de líderes regionais, mas há ainda uma grande lacuna técnica e financeira para transformar os discursos em ações concretas. A Amazônia é uma área enorme, complexa e logisticamente desafiadora. Ela certamente não é para fracos. Em síntese, os amazônidas precisam deixar a timidez de lado e colocar suas visões e sabedorias locais a disposição da humanidade para guiar o mundo em direção a um planeta mais sustentável e justo, desafia Silva.