Amazônia no rastro da economia do conhecimento da natureza

Amazônia no rastro da economia do conhecimento da natureza

Osíris M. Araújo da Silva

 

Explorar ou não explorar, explorar com sustentabilidade ou manter a região intocada sob forma de paraíso ecológico? Acirradas discussões sobre o dilema (ou os dilemas) levam praticamente a impasses intransponíveis na lógica da teoria do desenvolvimento. É extraordinária a pressão em favor da última hipótese exercida por ideólogos radicais vinculados a tendências conservacionistas lideradas por ONGs que se julgam acima do bem e do mal.  Sobretudo ao atribuir-se, sem rodeios, o direito de tentar intervir na política interna brasileira voltada à expansão das novas fronteiras agrícolas.

 

Explorar sustentavelmente a bioeconomia é vital para o Brasil. O campo estabelece novos referenciais de desenvolvimento e meios eficazes para fazer frente aos desafios do mundo moderno, como escassez de água potável, produção de alimentos, mobilidade urbana, envelhecimento da população e mudanças climáticas. A principal vantagem da bioeconomia é, de acordo com diversas fontes científicas, produzir mais com menos matéria prima e insumos. Enfim, a biotecnologia abrange qualquer aplicação tecnológica que se utiliza de sistemas biológicos, organismos vivos ou derivativos destes, para produzir produtos e processos para usos específicos”.

Objetivamente, uma área da ciência talhada para a Amazônia, que reúne a mais importante biodiversidade do planeta, objeto de pesquisas por parte da universidade e centros de pesquisas. O Brasil, não obstante a abundância inconteste desses recursos, não sabe como usá-los economicamente. Na Zona Franca de Manaus, por exemplo, não temos uma só empresa que opere no campo da biotecnologia a despeito de que, segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), a bioeconomia movimenta no mercado mundial em torno de 2 trilhões de euros e gera cerca de 22 milhões de empregos.

Visualizando-se a questão sob outro prisma, há de se verificar, todavia, que mudanças climáticas são reconhecidas pela quase totalidade dos cientistas que publicam nas mais prestigiosas revistas do mundo como o mais importante desafio que a humanidade já teve pela frente. Combatê-las ou ao menos atenuá-las pressupõe profundas transformações nos modelos contemporâneos de produção e de consumo. De acordo com o estudo “A Amazônia precisa de uma economia do conhecimento da natureza”, de autoria do pesquisador Ricardo Abramovay, professor Sênior do Programa de Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da USP, o Brasil pode oferecer fundamental contribuição global na luta contra o fenômeno.

 

A começar por cessar o descontrole do desmatamento. Opção, segundo o estudo, que não supõe conquistas tecnológicas complexas ou sacrifícios no bem-estar do País ou da própria  Amazônia. Países como a China ou os Estados Unidos enfrentam desafios científicos e tecnológicos complexos para descarbonizar suas matrizes energéticas, de transportes ou de aquecimento domiciliar. A segunda contribuição reside na emergência de uma economia do conhecimento da natureza. Detentor da maior biodiversidade do Planeta, o país precisa se preparar para transformar esta gigantesca riqueza em fonte de desenvolvimento, afirma Abramovay.

 

Para Djalma Batista, em sua obra “O Complexo da Amazônia”, de 1976, a floresta, “sendo constituída de organismos vivos, não  pode permanecer indefinidamente intocada; precisa ser racionalmente  cortada e substituída, para render e garantir sua dependência”. Qualquer que seja a natureza da intervenção, contudo,  deve considerar a região “como um  ecossistema”, integrado por complexos elementos da biodiversidade. Daí a emergência da economia do conhecimento da natureza, de que trata Abramovay. Do contrário, ao que alerta o pesquisador Alfredo Homma, da Embrapa Amazônia Oriental, sob graves limitações da ótica conservacionista e preservacionista, anti-agricultura e anti-desenvolvimento o resultado será tão somente o subdesenvolvimento sustentado.

 

Manaus, 28 de outubro de 2019