Amazônia, mitos, realidade, soluções

Amazônia, mitos, realidade, soluções

A Amazônia vem sendo vítima de um processo dialético esquizofrênico. De um lado se procuram exaltar e isolar os valores biológicos naturais do meio ambiente selvagem. De outro, menosprezam-se ou se omitem realidades e situações econômicas, sociais e humanas de extrema penúria daqueles que conseguem, a duras penas, sobreviver em condições adversas, explorando os únicos fatores de que dispõem: os recursos naturais da floresta, do rio e da terra. A contundente afirmativa, diante das circunstâncias em que a região é tratada no plano internacional – radical, intolerante; e internamente – distante, desatenta, alheia a suas idiossincrasias -, é do mestre Samuel Benchimol, em sua obra referencial “Amazônia: a guerra na floresta”, de 1992.

 

O forte de sua argumentação leva em conta a confusão que usualmente se faz entre “mitos e realidades, falácias e meias verdades, utopias e falsas vivências”. Muitas vezes de modo superficial, preconceituoso ou preconcebido, com um único propósito: manter a região intacta e virgem porque seus dons e os frágeis ecossistemas não resistem à ação antrópica e, portanto, devem ser preservados em favor da humanidade”.

Não se analisa nem se respeita o esforço considerável que o amazônida faz, muitas vezes isoladamente, para tornar a região mais humana e social, por meio de tantos empreendimentos  economicamente viáveis e ecologicamente autossustentáveis, argumenta.

 

Nesta hipótese, ao que, realisticamente argumenta Samuel Benchimol, a “intocabilidade” da região “seria necessária para salvar o Primeiro Mundo dos efeitos deletérios do efeito estufa, da chuva ácida e da destruição da camada de ozônio, causados pelo dióxido de carbono, óxido nitroso, dióxido de enxofre, metano e clorofluorcarbonos, expelidos – observe-se – pelas suas indústrias poluidoras e anti ambientalistas, que há séculos vêm destruindo os valores naturais e biológicos do nosso planeta”.

 

O Webinar “Visão JCAM, um olhar Amazônida”, realizado na segunda-feira, 19, promoveu amplo debate  acerca das potencialidades da biodiversidade, dos conhecimentos científicos consolidados na universidade e centros de pesquisa e seus reflexos sobre a geração de emprego e renda na economia amazonense. Preciosos ativos que, no entanto, permanecem à espera de políticas públicas adequadas à sua aplicabilidade industrial. Tomaram parte nas discussões o coordenador-geral do CBA (Centro de Biotecnologia da Amazônia), Fábio Calderaro, o presidente do Cieam, Wilson Périco, e o pesquisador da UEA, Sergio Duvoisin Junior. Como mediadores, os jornalistas Fred Novaes e Caubi Cerquinho, o geólogo Daniel Nava e ainda Adalberto Santos, superintendente do JC.

Segundo Wilson Périco, as soluções em torno do que está se convencionando chamar de Nova Zona Franca, deverão alicerçar-se, predominantemente, na conciliação do Polo Industrial, 4.0, com as cadeias produtivas da bioeconomia, vocação natural da Amazônia. A questão, de extrema relevância, não pode, entretanto, ficar na dependência do governo Federal, mas conduzida por meio de soluções locais desenvolvidas pela universidade e  os centros de pesquisa em conjunto com a iniciativa privada. O grande desafio hoje compreende reunir a pesquisa básica, o que faz o Inpa, por exemplo, e a pesquisa aplicada.

A boa notícia veio do gestor do CBA, Fábio Calderaro, ao anunciar que a entidade será transformada em Centro de Bionegócios da Amazônia, reunindo o conjunto do conhecimento armazenado em torno da  bioeconomia, bio engenharia, serviços ambientais, biofármacos, biocosméticos, produção de alimentos, ecoturismo, etc, promovendo seu encontro com investidores vocacionados. Na visão dos debatedores, aqui se pode desenvolver tecnologias amazônicas para o Brasil e o mundo, a partir de centenárias vias traçadas por Samuel Benchimol, Djalma Batista, Alfredo Homma, Bertha Becker e renomados pesquisadores dedicados ao desenvolvimento científico, tecnológico e econômico da Amazônia.