Amazônia, intocabilidade para quem?

Por Alfredo MR Lopes (*) alfredo.lopes@uol.com.br

Na carona da Conferência do Clima, encerrada  em Paris com acordos que representam  avanços possíveis e objetivos para conter  as ameaças do clima, a nova onda do ambientalismo corporativo,  chama-se Paisagens  Florestais  Intactas  (IFLs,  do  inglês  Intact  Forest  Landscapes). Capitaneada por  Greenpeace, Global Forest Watch, World Resources Institute,  Transparent  World,  Universidade  de  Maryland  e  WWF  Russia (entidades do Bem, como se diz por aí,  do Bem de quem?)  e focadas no bioma amazônico – o Brasil é tratado com prioridade por ter 60% das INLs do planeta –  a nova onda  repagina a ideologia da intocabilidade. São complexos e universalizastes os algoritmos de demonstração. Aqui, pra variar, a Estatísitca vira  instrumento eficaz para ocultar  propósitos. Como levar a sério análises “científicas” que dicotomizam a questão ambiental da condição  humana? Tecnicamente IFLs  são  os  “últimos  remanescentes  das grandes  zonas  florestais  não  perturbadas  por  fragmentação,  estradas  ou  outras infraestruturas humanas significativas”, diz a interpretação do FSC, Forest Stewardship Council, em seu portal na web. Presente na Amazônia há quase três décadas, o FSC é   uma instituição que confere certificação de produtos oriundos de manejos florestais. Se a nova onda do preservacionismo pegar, como entendem as corporações estrangeiras que a financiam,, seus negócios pelo mundo afora serão atingidos. O engenheiro florestal Jeanicolau Lacerda, defensor obstinado do uso florestal inteligente,  desmonta o imperativo da modelagem estatística aplicado a áreas de manejo, como fator de proteção climática.  Como imobilizar  essas áreas, onde as florestas são decididamente protegidas e cumprem sua parte na estabilidade do clima?

O obscurantismo de manter a floresta intocada,  em pé, com seus  habitantes ajoelhados  pelo imobilismo de bolsas verdes, tem sido causa do desmatamento ilegal, e da restrição funcional de projetos e programas de manejo florestal.  O programa de plantio de castanheira e pupunha, com mais de 2,2 milhões de indivíduos, conduzido há mais de três décadas pelo visionário Sérgio  Vergueiro na Amazônia, é um paradigma, entre outros, de intervenção climática exemplar.  Plantar com adição de tecnologias inovadoras não apenas   recupera áreas degradadas,  como  demonstra o acerto de  enriquecer áreas de com potencialidades socioeconômicas de manejo ambiental.  Reflorestar  com espécies de alto  valor comercial é proteger a floresta, resguardar  a eventual fragilidade de alguns biomas e investir nas  potencialidades efetivas dos demais.

Para Niro Higuchi e Charles Clement, cientistas com mais de  três décadas de observação ação na silvicultura tropical,  os  novos negócios da Amazônia, para manter seus padrões de controle de estoques florestais, dependem de  investimentos  para a atividade industrial na floresta. Aqui não cabem  investimentos no agronegócio,  que poderão  captar financiamento na rede bancária privada e manter os aportes adequados  na pesca e aquicultura, para  oferecer proteína para a maioria da população amazônida.  Os investimentos devem concentrar-se, dizem eles,  na atualização tecnológica de empresas existentes, na viabilização de novos empreendimentos com tecnologias avançadas (especialmente a abertura de filiais de empresas do setor florestal com tecnologias já consagradas,  e de fábricas atualmente localizadas fora da Amazônia), na criação de arranjos produtivos locais (como polos moveleiros que a Suframa pode retomar  para o adensamento da cadeia produtiva florestal em geral. Assim, em lugar da intocabilidade,  a equação meio ambiente e desenvolvimento se harmonizará na Hileia a serviço da ecologia, na promoção da economia e da prosperidade social.