Amazônia, ilustre desconhecida

Amazônia, ilustre desconhecida

Basicamente, a guerra declarada de desinformações sobre a Amazônia configura pauta ideal para explorar a tensão entre a necessidade do desenvolvimento e as pressões conservacionistas internas e externas. Tensões, na verdade, que se agravam na exata medida em que o governo retarda, ao menos nos últimos 50 anos, soluções definitivas no tocante ao desafio de produzir para desenvolver e conservar o Setentrião brasileiro. Conflitos em torno do bioma Amazônia não deveriam sinalizar necessariamente rendições de cá e de lá, mas o começo de um “gentleman’s agreement” internacional em torno do valor estratégico da região para a economia brasileira e o equilíbrio ambiental do Planeta. Isto é, combater discursos e ações antinacionais com planejamento ajustado às assimetrias do bioma, não a conveniências de ambientalistas radicais.

 

Evidentemente, se o governo militar, ao lado da Embrapa, tivessem, no início dos anos 1970, criado mecanismos de planejamento estratégico para disciplinar a ocupação da Amazônia – alternativamente à “pata do boi” -, baseado na agropecuária sustentada em produtividade, tecnologias avançadas, priorizando a exploração sustentável da bioeconomia, o quadro conjuntural hoje seria outro. Ocorre que já se passaram mais de meio século desde então, e os sucessivos governos civis da redemocratização de 1985 também não buscaram criar mecanismos efetivos de conciliação da exploração da biodiversidade com preservação ambiental. Cada um deles, com efeito, responde por importantes parcelas que levaram ao agravamento do processo de degradação ambiental instalado, particularmente na franja Sul e Sudeste da região.

 

Especialistas apontam que “a inexistência de estrutura apropriada para a proteção da Amazônia como um bem natural sugere modificações que ferem a soberania e a integridade territorial do país”. Riquezas minerais são uma constante em todo o território amazônico. Do ouro ao petróleo, do manganês ao diamante, reservas de pelo menos 12 minerais diferentes estão espalhadas pela área, muitas das quais em terras indígenas e pouco exploradas. Residem no Brasil entre 320 e 350 mil índios, cujas reservas ocupam 12,5% do território nacional, o equivalente a 1.069.424,34 quilômetros quadrados de terra distribuídos em 503 Terras Indígenas já reconhecidas. Destas, 83,72% estão na região Norte, principalmente na floresta amazônica.

 

A verdade é que a desinformação é o fator predominante nos debates, liderados por correntes conservacionistas, ostensivamente contrárias ao desenvolvimento. A imensa maioria das “autoridades” que se arvoram discutir a região em um sem número de webinars realizados no Brasil e mundo afora, desconhecem por completo as idiossincrasias geopolíticas, econômicas e culturais locais. Em relação à Amazônia, baseiam-se, essencialmente, em pressuposições especulativas que se movem embaladas por interesses de organizações estrangeiras, sem  comprometimentos com os interesses nacionais. Jamais citam as fontes dos amazonólogos que lançaram as bases da estrutura teórica geopolítica, econômica, cultural e social apropriadas nos debates.

 

Gravíssimo ainda o fato de que a maioria das autoridades governamentais que decidem sobre os destinos do país e da região, dispõem não mais do que mera noção da  conjuntura geopolítica, especialmente do Norte ou do Centro Oeste. Ao Nordeste chega-se quase sempre pelas belíssimas praias da região; quantos conhecem, mesmo de passagem o semiárido, Petrolina e Juazeiro, um dos maiores polos produtores nacionais de frutas e vinho? Quantos brasileiros, inclusive amazonenses, já estiveram na Tríplice Fronteira Brasil, Colômbia, Peru; na Cabeça do Cachorro, em São Gabriel da Cachoeira, no médio ou Sul do Amazonas? Difícil, em tais circunstâncias equacionar e solucionar os desafios que se interpõem ao esforço desenvolvimentista, mesmo que a Amazônia seja o bioma mais cobiçado da face da Terra, fato pouco valorizado pela intelligentsia pátria.