Amazônia, como conhecê-la?

Por Osíris Silva:

Diz bem o lema do programa ProAmazônia: “conhecer para proteger”.  Até que ponto, contudo, conhecemos ou estamos empreendendo esforços no sentido de alcançar a efetiva dimensão econômica, social, geopolítica e estratégica desta porção territorial do Brasil?  Qual a escala de valor atribuída pela sociedade brasileira e o governo em si em relação a esta região, sem qualquer dúvida a mais importante do Planeta face à imensidão de sua biodiversidade?

Estudo dos pesquisadores do INPA Charles R. Clement e Niro Higuchi –  A floresta amazônica e o futuro do Brasil, publicado na revista Ciência e Cultura, São Paulo, Jul/Set 2006 aponta que boa parte do bioma “está sendo derrubado de forma acelerada porque tem pouco valor na percepção da sociedade brasileira atual, apesar de uma parte dos formadores de opinião afirmarem o contrário. Esta contradição entre o discurso e a realidade sócio-político-econômica é comum no mundo e ajuda a entender muito a respeito dos problemas de degradação ambiental que estão minando a sustentabilidade do empreendimento humano”.

Na realidade, prossegue a análise,  os valores da floresta, que não os econômico-financeiros derivados de sua exploração aberta ou controlada ‘beneficiam poucos (exemplo: o valor estético – que beneficia principalmente os moradores e os ecoturistas); levarão mais tempo para serem realizados (o uso da biodiversidade que exige investimentos em pesquisa e desenvolvimento) ou simplesmente não são contabilizados no PIB (os serviços ecológicos – conservação de água e solo, filtragem de poluentes, polinização, etc. – e o valor ético – os direitos à vida dos outros seres vivos da floresta). É evidente, afirmam Clement e Higuchi “que essa visão míope do valor da floresta não reflete seu valor real, nem em curto prazo e muito menos a longo prazo, especialmente se o país pretende ser um membro do primeiro mundo”.

Levantam os pesquisadores do INPA premissa segundo a qual  “a nosso ver, a questão essencial é: como aumentar a densidade econômica da floresta para que seu valor seja percebido pela população brasileira”. Charles Clement e Niro Higuchi conduzem a seus questionamentos levando em conta duas  opções para alcançar esse objetivo e sugerir sua utilização simultânea. A primeira relaciona-se à importância dos serviços ecológicos da floresta, especialmente o ciclo da água. A segunda é a transformação da própria floresta para aumentar sua densidade econômica no PIB brasileiro num futuro imediato. Acreditam que uma “janela de oportunidades está prestes a se abrir para o Brasil, que precisa estar preparado para aproveitá-las”. Em termos práticos, é pegar ou largar. Ou o Brasil segue o exemplo de países que adotaram no devido tempo medidas corajosas nesse sentido (Alemanha, Japão, países Nórdicos, China, Canadá, Estados Unidos) ou não haverá como recuperar o tempo perdido.

Tanto em relação à água, às reservas minerais, aos hidrocarbonetos, à exploração madeireira, à bioenergia, à bioengenharia, aos serviços ambientais ou a biofármacos, em qualquer situação o governo brasileiro terá de assumir riscos e realizar investimentos pesados no sistema de ensino, de ciência, tecnologia e inovação (C,T&I). Nesse sentido precisará mudar a percepção de Amazônia que erroneamente sustenta. Samuel Benchimol, em sua obra “Amazônia um pouco antes e além-depois”, de 1977, já chamava a atenção para o erro clássico de que as políticas públicas, quando adotadas, erram sempre ao considerar a Amazônia “uma região mais ou menos homogênea e, como tal, suscetível de um planejamento uniforme e global”. São na verdade oito (oriental, central, setentrional, do planalto, ocidental, guiana-orinocense e pré-andina). Na avaliação de Benchimol cada uma dessas sub-regiões compreende unidades geopolíticas autônomas a exigir soluções pontuais e tratamentos dessemelhantes e típicos. Realidades que o governo brasileiro ignora, frente às quais historicamente vem se omitindo.