A Amazônia é uma questão nacional, política, cultural, científica e tecnológica. A produção cientifica realizada na região, por inúmeras instituições nacionais e internacionais, demonstra claramente que, quando difundida e acessível à sociedade, tem influência importante em políticas públicas. Infelizmente, apenas uma parcela pequena desta produção chega à sociedade. Além disso, existe um espaço aberto para novas pesquisas, utilizando ferramentas tecnológicas já disponíveis, que permitam inovação nas formas de geração de conhecimento cientifico, e difusão destes para os interessados.
A afirmativa é do pesquisador Carlos Roberto Bueno, coordenador de extensão do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), no artigo publicado em março passado intitulado “Nossa Amazônia: A Necessidade de uma Revolução Científica e Tecnológica frente aos desafios do desenvolvimento regional”. Ao se analisar este trabalho há de se observar a perplexidade da comunidade amazônica, do Brasil e do mundo a propósito do contraditório subjacente sobre o valor econômico intrínseco que se atribui ao Setentrião brasileiro e a viabilização da inserção dos produtos de sua biodiversidade junto ao mercado, nacional e externo. Ocupando área de aproximadamente 60% do território nacional e habitada por cerca de 25 milhões de brasileiros, a região, enfatiza Bueno, “demanda de todas as esferas de governo políticas públicas adequadas ao uso e conservação de seus complexos e delicados ecossistemas, alinhadas ao uso e conservação de seus complexos e delicados ecossistemas, e, por extensão, às relacionadas à educação, saúde, segurança, segurança alimentar, entre outras”.
Segundo Carlos Bueno, “os modelos de desenvolvimento adotados ainda têm sido incapazes de aproveitar as potencialidades naturais de forma eficiente, ocorrendo passivos socioambientais de grande magnitude, desperdício de recursos financeiros e falta de comprometimento com interesses regionais. A reversão deste quadro impõe à ciência, tecnologia e inovação (C,T&I) um novo desafio para alcançarmos uma economia mais justa socialmente e ambientalmente saudável”. Por outro lado, observa: “apesar dos avanços no conhecimento científico sobre o entendimento do bioma Amazônia nas suas diferentes vertentes relacionadas às funções ecológicas desempenhadas pelos ecossistemas, clima, biodiversidade e diversidade cultural, muito desse conhecimento ainda necessita ser transladado ao setor produtivo e aos mecanismos de mercado para geração de renda. A inovação tecnológica tem um papel central neste desafio, tentando responder às demandas amazônicas e do país como um todo, principalmente nas dimensões associadas à segurança alimentar, uso da biotecnologia em processos produtivos, conservação e uso sustentável da biodiversidade”.
Alcançar tal estágio evolutivo pressupõe o estabelecimento de prioridades em relação à matriz de ensino e pesquisa, questão à qual o governo demonstra-se incompetente de enfrentar e resolver os gargalos que comprometem o alcance de metas realísticas e factíveis. Nesse sentido, o artigo de Carlos Bueno preconiza que “o modelo de desenvolvimento buscado para a Amazônia precisa ser desafiador, inovador e único. Nesta região ainda é possível a concepção de um modelo de produção e consumo sustentável dos recursos naturais que permita não somente o desenvolvimento social e econômico da região, mas também a conservação da natureza e da cultura dos povos ribeirinhos e indígenas que nela habitam há séculos. Esse modelo deve responder às exigências das sociedades brasileira e internacional quanto à mitigação dos problemas ambientais que afetam a Terra. O desafio de transformar o capital natural da Amazônia em ganhos econômicos e sociais de maneira ambientalmente sustentável é singular. Não existe um “modelo” a ser copiado, pois não há sequer um país tropical desenvolvido com economia baseada em recursos naturais diversificados, principalmente de base florestal, intensivo uso de C&T de ponta e força de trabalho educada e capacitada na utilização dos conhecimentos adquiridos”.
Para Carlos Bueno “as demandas do mercado global por água, energia, alimentos, biocombustíveis e fármacos, bem como a crescente preocupação mundial com os riscos para a humanidade decorrentes de práticas ambientais destrutivas, aumentaram a importância geopolítica da Amazônia e de seus recursos naturais. Somente a atribuição de valor econômico à floresta em pé permitirá a ela competir com outros usos que pressupõem sua derrubada ou degradação”.