Amazônia 4.0, por uma bioeconomia inovadora

Amazônia 4.0, por uma bioeconomia inovadora

O programa “Amazônia em Transformação”, do Instituto de Estudos Avançados de São Paulo (IEA/USP) e Imazon foi discutido na última terça-feira, 21, em Webinar de responsabilidade da Sociedade Brasileira de Ciência. O evento contou com as participações dos Acadêmicos Carlos Nobre e Carlos Alfredo Joly, e do indígena do povo Tukano e antropólogo, João Paulo Barreto, e mediação do pesquisador do Inpa, Adalberto Val. Coordenado pelo pesquisador Carlos Nobre (ex-Inpa e Inpe), o projeto Amazônia 4.0 reúne uma equipe de professores e pesquisadores de diversas vinculações institucionais dedicada a estudar e propor soluções sobre desenvolvimento social, econômico e ambiental do Setentrião brasileiro.

A proposta tem por objetivo alcançar um novo paradigma de desenvolvimento sustentável para a Amazônia baseado na introdução de uma bioeconomia inovadora, unindo a sociobiodiversidade com modernas tecnologias”. Até o momento, ao que informa Nobre, a execução do projeto tem contado apenas com recursos de filantropias, sem participação do governo brasileiro. Esta etapa contempla a construção – em andamento – do primeiro Laboratório Criativo da Amazônia para a cadeia cupuaçu-cacau e também o desenho de um laboratório para recursos genéticos e genômicos de laboratórios para castanha e óleos gourmet de produtos da floresta.

Propondo-se também criar alternativa inovadora como estratégia de implementação do Amazônia 4.0 a partir de tecnologias disruptivas, o programa foi concebido com vista a novas oportunidades de pesquisa, tecnologia e aprendizado para valorizar e proteger os ecossistemas amazônicos e, igualmente, servir aos interesses das populações locais, povos indígenas e tradicionais, seus naturais mantenedores. Prevê ainda investir em “economia verde equitativa e socialmente inclusiva, orientada para a biodiversidade, aproveitando o valor da natureza através de produtos sustentáveis de florestas tropicais em pé”.

O documento base do programa fundamenta a iniciativa em três premissas: a) de haver chegado o momento de abrir as portas para as oportunidades inerentes aos ecossistemas específicos e diversificados da Amazônia, adotando ações que incluem, por exemplo, a pronta prototipagem e expansão de inovações que aplicam uma combinação de tecnologias avançadas digitais, biológicas e de materiais da 4a Revolução Industrial (4RI); b) na constatação de que essas tecnologias estão cada vez mais utilizando e se beneficiando com os ativos biológicos e biomiméticos em diversas indústrias – de produtos farmacêuticos a energia, alimentos, cosméticos, materiais e mobilidade – não apenas na Amazônia, mas em muitos lugares ao redor do mundo; c) na certeza de que a bioeconomia deve gerar empreendedorismo local, bioindústrias diversificadas e produtos de valor agregado em todos os elos da cadeia de valor, a partir do amplo uso de tecnologias inovadoras.

 

A proposta, ao que se propõe, é, em essência, ambiciosa, ousada e de alto impacto em relação à “exploração sustentável de nossa biodiversidade e salvaguarda  das funções climáticas dos sistemas florestais e fluviais  relevantes à Amazônia brasileira, pan-amazônica e ao planeta”. Por isso mesmo há de se estranhar, na formulação teórica e operacional do programa a não participação da universidade, dos centros de pesquisa regionais  (Inpa, Embrapa, Cba, Museu Goeldi), das secretarias estaduais de ciência, tecnologia e inovação, da Sudam, Suframa e do próprio Conselho da Amazônia.

 

A exploração dos amplos recursos da bioeconomia, do ecoturismo, do manejo florestal sustentável, da mineração e seus derivados industriais configuram alternativas econômicas positivas caso se se realizem os investimentos correspondentes em P,D&I. Com efeito, o Amazonas 4.0 poderá vir a tornar-se bom para a região desde que obrigatoriamente submetido à governança local, irrenunciável, inabdicável a qualquer título a agentes estranhos à cultura e à ciência amazônica.