Do Blog do Noblat:
Ronaldo Brasiliense
Que Nordeste, que nada. A maior votação obtida por Dilma Roussef (PT) na eleição presidencial veio do Amazonas, o maior e mais preservado estado da Federação, com seu continental território de 1,57 milhão de kms quadrados, 18% do Brasil, três vezes maior que a França.
Lá, onde não há uma só rodovia ligando o estado aos maiores centros do país, Dilma Rousseff recebeu 80,57% dos votos válidos, contra 19,43% do tucano José Serra.
A pororoca de votos em Dilma este ano não foi suficiente, porém, para quebrar o recorde de Luiz Inácio Lula das Silva, o campeão de votos no estado que detém a maior floresta tropical úmida contínua do planeta.
Lá, em 2006, no segundo turno da eleição presidencial, Lula teve 86,8% dos votos, contra 13,19% para o tucano paulista Geraldo Alckmin.
Se no vizinho Acre Dilma perdeu para Serra em 22 dos 23 municípios, no Amazonas a hoje presidente eleita arrebentou: ganhou em todos os municípios e na desconhecida Manaquiri – a 60 kms a sudoeste de Manaus, a capital, obteve 93,2% dos votos, um recorde entre todos os mais de 5.500 municípios brasileiros.
Dilma Roussef mesmo assim perdeu para o campeão dos campeões de voto no estado – isso mesmo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que em 2006, no segundo turno contra o também paulista Geraldo Alckmin, hoje governador eleito de São Paulo, teve 93,3% dos votos de Manaquiri a, digamos assim, mais vermelha de todas as cidades do País.
Mas como explicar tanto sucesso eleitoral de Lula e Dilma no maior e mais distante estado brasileiro?
Vamos por partes:
Primeiro, o Amazonas é pródigo em Bolsas-Família, distribuídas aos milhares entre sua paupérrima população interiorana, principalmente, num estado onde as dificuldades de locomoção são terríveis.
Segundo, o Amazonas surfou na onda da Copa do Mundo de 2014, numa disputa em que Manaus derrotou Belém – capital com mais infraestrutura e governada por Ana Júlia Carepa (PT), supostamente amigona do presidente Lula e que chegou a organizar festa em praça pública em Belém para comemorar a escolha da capital paraense como única sede da Copa de 2014 na Amazônia.
Terceiro, e mais importante: no Amazonas, mais do que em qualquer outro estado brasileiro, a máxima do ministro da Propaganda de Adolf Hitler, Joseph Goebells, “Uma mentira repetida à exaustão torna-se uma verdade!”, pegou.
Propaga-se há mais de uma década que os candidatos a presidente da República paulistas querem porque querem acabar com a Zona Franca de Manaus, um território livre de impostos, responsável por oito em cada 10 postos de trabalho existentes em Manaus, que por sua vez concentra mais de 50% do eleitorado do Amazonas.
Essa mistura empolgante de Bolsas-Família, Copa do Mundo e boatos contra a Zona Franca foi fatal nas últimas três eleições presidenciais, onde Lula bateu José Serra em 2002 e venceu Geraldo Alckmin em 2006, e onde Dilma Roussef arrebentou com Serra em 2010.
E a derrota só não foi mais acachapante porque houve influência de fatores climáticos: a seca dos rios Solimões, Negro e Madeira, entre outros que banham o estado, afastou das urnas milhares de eleitores.
No município de Maraã, ao norte de Manaus, por exemplo, o índice de abstenção no segundo turno das eleições foi de 58,82%, um recorde.
O eleitorado de Maraã é de 7.414 pessoas, das quais 4.361 não compareceram às urnas. Dilma Rousseff (PT) ganhou a eleição na cidade, com 3.486 votos. José Serra (PSDB) recebeu 436 votos.
“A abstenção em Maraã teve relação direta com a seca. Os eleitores não conseguiam chegar aos locais de votação e muitas embarcações ficaram no meio do caminho”, relatou o diretor-geral do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas, Pedro César da Silva Batista, explicando a abstenção recorde.
O Amazonas registrou o terceiro maior índice de abstenção do País na eleição presidencial no segundo turno, no domingo. O percentual chegou a 26,8%, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A marca só não foi maior que o verificado nos Estados do Maranhão (29,5%) e no Acre (28,2%).
Ronaldo Brasiliense é jornalista
Caro Amigo Ronaldo,
É sempre importante ter outras opiniões sobre a popularidade do Governo Lula no Amazonas, responsável pelas votações recordes de Lula em 2006 e, agora, de Dilma.
Porém, é preciso fazer algumas ressalvas ao seu comentário. Não é por causa do Programa Bolsa Família que existe essa popularidade, embora seja um dos fatores. Outros estados que tem, percentualmente, maior número de beneficiários do PBF, não deram essa votação recorde ao governo.
Cabe, portanto, afirmar que foram os enormes investimentos nas mais diversas áreas que o Governo Lula repassou ao estado que proporcionaram essa votação recorde, investimentos esses que irão continuar no governo Dilma.
Um abraço do amigo que muito lhe deve
Lizardo Paixão (assessor do dep. Praciano)