Aloysio Nunes: ‘Vento está batendo na vela do Eduardo Campos’

De OGLOBO.COM, por Thiago Herdy:


Senador tucano Aloysio Nunes
Foto: André Coelho / Agência O Globo

Senador tucano Aloysio Nunes André Coelho / Agência O Globo

BRASÍLIA – Aos 67 anos, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) conheceu recentemente a sensação de pular de paraquedas. “Tem uma hora que bate um vento e enche a vela. É nessa hora que você tem que correr e se lançar”, explica o senador, para logo em seguida explicar: “Eu acho que o vento tá batendo na vela do Eduardo Campos”. Mas e na de Aécio Neves, virtual pré candidato do seu partido à presidência?, pergunta O GLOBO.

“Ainda é muito cedo para roçar, não vamos deixar que seja tarde para carpir”, responde o principal interlocutor de José Serra, mostrando que a primeira batalha de Aécio Neves (PSDB-MG) ainda é interna e se dá em São Paulo. Mesmo que ele já tenha sido lançado como o candidato por tucanos como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de Goiás Marconi Perillo e Sérgio Guerra, e que a presidente Dilma já tenha sido lançada à reeleição por Lula.

“Vamos deixar nossas coisas do PSDB para depois da convenção (marcada para maio). São coisas que estamos discutindo dentro do partido ainda. A alternativa não será apenas nossa, será do conjunto das oposições”, completa Nunes, demostrando que a negociação interna pela candidatura do mineiro não está sacramentada.

Nesta entrevista ao GLOBO, o senador tucano critica a reorganização do Congresso de acordo com “interesses setoriais” em detrimento da organização partidária. Ataca a falta de liderança política de Dilma, que há dois anos chegou ao cargo prometendo uma agenda de reformas a ser criada a partir do diálogo com a oposição, mas muito pouco conseguiu.

“Agora está tarde, a preocupação com o curto prazo se exacerba porque tudo está submetido à lógica da campanha eleitoral”, afirma o senador, um dos poucos que se posicionaram pela manutenção do veto presidencial na lei dos Royalties e que acusa os outros estados de promoverem “bullying federativo” contra RJ e ES.

O ex-presidente Lula lançou Dilma à reeleição, a oposição deve fazer o mesmo?

Não. Mas eu não vou falar sobre sucessão em matéria de oposição. Vamos tratar na convenção partidária, é outro capítulo. Evidentemente quem antecipou a campanha foi a presidente.

Não é uma estratégia para forçar a oposição a lançar seu candidato?

Eu acho que não, acho que é uma estratégia para exorcizar o fantasma do Lula e a insegurança política dela, porque havia a especulação de que o Lula poderia ser candidato. E também faz isso diante das dificuldades reais que o governo dela está vivendo.

Quais são?

O povo está consumindo, os empregos estão sendo criados, mas são empregos ruins, basicamente no setor de serviços. Os salários são baixos, as famílias estão se endividando, estamos consumindo mais do que estamos produzindo. Todo mundo está vendo que essas coisas não vão durar muito tempo, acelerar o calendário eleitoral é uma fuga para adiante.

Fernando Henrique lançou Aécio candidato…

(interrompendo) Vamos deixar nossas coisas do PSDB para depois da convenção (marcada para maio). São coisas que estamos discutindo dentro do partido ainda. A alternativa não será apenas nossa, será do conjunto das oposições.

Quando o sr. elogiou o pronunciamento do senador Aécio na tribuna, o senhor fez menção à importância de “dar um novo rumo ao país e promover a alternância de poder”. Estava o reconhecendo como candidato?

Foi um reconhecimento à liderança política forte, o peso político inquestionável do Aécio. Promover a alternância de poder é o papel das oposições.

Há espaço para atrair o PSB ao projeto do PSDB?

Acho que não. O PSB caminha para ter uma candidatura própria e que não vai se colocar no campo da situação. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar. E eu não vejo o Eduardo Campos sendo o vice da Dilma, nem a presidente cometendo a insensatez de chutar o PMDB. Eu cometi a insensatez de fazer um voo de paraglider, sabe o que é isso?

Sim.

Então, paraglider é um seguinte: tem uma hora que bate um vento e enche a vela. É nessa hora que você tem que correr e se lançar. Eu acho que o vento da batendo na vela do paraglider do Eduardo Campos. Imagino que ele quer ser candidato. A Marina é candidata, o PSDB será igual, teremos o nosso.

Mas o vento ainda não bateu e encheu a vela do Aécio?

Ainda é muito cedo para roçar, não vamos deixar que seja tarde para carpir. Pra roçar ainda está um pouquinho cedo. Vamos soltar no tempo certo.

Surpreende a entrada do PSB, partido da base, na disputa?

Acho que divide votos, especialmente no Nordeste. É um partido que está em ascensão. Não me surpreende, porque eu acho que a presidente Dilma não conseguiu exercer a liderança política no campo dela, como FHC e Lula conseguiram no tempo deles.

Há dois anos Dilma assumiu propondo um diálogo para reformas fundamentais…

Não existe. Quando assumiu o Lula chamou a oposição para um diálogo em torno da reforma da previdência. E só por isso a reforma foi concluída naquele momento. Há um diálogo entre governo e oposição, mas em torno de questões tópicas. Uma proposta de agenda de reformas não se propõe. Agora está tarde. A preocupação com o curto prazo se exacerba porque tudo está submetido à lógica da campanha eleitoral. E começa a falar besteira.

Por exemplo?

“Não herdamos nada de ninguém”. “Fazemos o diabo em eleição”. é um linguajar do Lula sem a graça do Lula. Foram dois anos perdidos do ponto de vista da gestão econômica, agora são mais dois anos perdidos também porque ela vai continuar espremendo este limão até o final.

Falta habilidade política?

Não é habilidade, é visão estratégica, é compreender o peso da Presidência. Ela está vivendo na gordura acumulada do governo Lula e fazendo uma operação de cabotagem sem enfrentar os problemas reais. Só fala: “vamos fazer a reforma tributária”. Cadê? E a reforma política? Se vc afastar as questões muito, polêmicas, chega em pontos que todos estão de acordo. Por que o governo que tem a liderança da maioria, não toma a iniciativa? Porque tem uma visão de curto prazo, não abre um diálogo real com as forças políticas do país. É um governo balofo e fraco.

Por que a base não vota os quase 3 mil vetos parados?

Cada vez mais o Congresso é refém de interesses setoriais, que são mais fortes do que os partidos, até do que o alinhamento entre governo e oposição. Não se vota os vetos porque o governo tem medo de perder em votações da regulamentação da emenda 29, do fator previdenciário, do Código Florestal, essas questões. Tem medo de ser apunhalado pelas costas pela própria base.

Na sessão dos royalties falou mais alto o interesse regional…

Os líderes do governo não deram nenhuma palavra, ficaram ali quietinhos. Virou uma bagunça isso, vaca não conhece bezerro. A falta de intervenção para resolver essas questões federativas, aliada à centralização de receitas e desoneração de impostos às custas de estados e municípios, são coisas que tornam os conflitos federativos muito exacerbados. A presidente finge que não é com ela. Deixou chegar a este ponto, tão grave que seus líderes não tiveram condições de se pronunciar em defesa dos vetos dela.

Vê solução para esse conflito?

Passa por negociação conjunta de todas essas questões. Você tem que por na mesa para discutir a dívida dos estados, mudança de indexador e mudanças do fluxo de pagamentos. Tem os fundos de desenvolvimento regional, a unificação de ICMS e sua cobrança no destino, Fundo de Participação dos Estados. Põe isso isso em uma mesa e encontra um jogo de ganha ganha, ainda que tenha que entrar com recursos da União.

O sr. vê espaço para discussão disso entre oposição e governo?

Isso não é questão de governo, essa divisão está perpassando as bancadas. Minhas posição pela manutenção de veto (no caso dos royalties) é isolada. O Rio de Janeiro e o Espírito Santo estão sendo vítimas do bullying federativo, porque estão tirando de uma hora para outra uma receita que está incorporada a seus orçamentos. Quem tinha peso polítco, e financeiro e regulatório para poder entrar nisso era a presidente da República. E ela não entrou.