Estou na Audiência Pública sobre Lei Geral da Copa 2014, com a presença do relator da lei na Câmara dos Deputados. O debate nacional sobre a lei está centrado em três temas: limitação à lei da meia-entrada de estudantes; restrições à lei de gratuidade dos idosos e liberação da venda de bebidas nos estádios.
Fica óbvio que estas preocupações estão relacionadas a quem vai entrar no estádio para ver os jogos. Agora vejamos. A Arena Amazônia terá capacidade para 45 mil pessoas e teremos 4 jogos em Manaus. Portanto, se, num cenário absurdo, o estádio ficasse lotado nos 4 jogos só com amazonenses , sem que nenhum assistisse a mais de 1 jogo, – isso é impossível já que parte dos ingressos nem chegará aqui já que serão vendidos pela própria FIFA – teríamos 180 mil amazonenses vendo os jogos, ou seja, 10% dos manauaras e menos de 5% dos amazonenses.
Os números indicam que, se muito, 1% dos amazonenses assistirão a um jogo na Arena. Ou seja, 99% dos amazonenses assistirão aos jogos da Copa como sempre assistiram, pela televisão.
Faço essa reflexão pra demonstrar que, pelo menos pra nós amazonenses, essa discussão sobre meia-entrada, gratuidade dos idosos e venda de bebida nos estádios nos jogos da Copa tem pouca relevância.
Importante mesmo, para nós, é discutir os reflexos da Copa para os 99% de amazonenses que ficarão do lado de fora do estádio. Para esses, pouco importa a Lei Geral da Copa, mas muito importa as obras do aeroporto, do porto, o reordenamento do centrohistórico de Manaus e, principalmente, as obras de mobilidade urbana (Monotrilho e BRT).
Acontece que, enquanto discutimos a Lei Geral da Copa, as obras de infraestrutura que deixariam um legado urbanístico e social pra todo o povo do Amazonas continuam paralisadas pela burocracia, pela incompetência e, em alguns casos, pela improbidade dos gestores.
A Copa é menos importante pelo seu legado esportivo e mais importante pelo seu legado social, urbanístico e de infraestrutura. Sem aeroporto, porto, reordenamento do centro histórico, monotrilho e BRT, a Copa em Manaus será a diversão para menos de 1% da população e uma dívida bilionária para todo o povo pagar com o suor do trabalho de várias gerações de amazonenses.
Esse não é um artigo contra a Copa. É um artigo para que os amazonenses estejam atentos à conduta dos seus governantes e cobrem a execução das obras urbanísticas relacionadas ao evento. Senão, depois restará chorar e pagar!