(Artigo censurado pelo Correio Braziliense)
A eleição do governador Agnelo Queiroz foi resultado do esforço de milhares de pessoas que desejaram parar o atraso que tomara conta do DF. Muitas destas pessoas estão hoje preocupadas e têm uma nova obrigação: alertar o governo que elegemos para evitar retrocessos naquilo que sonhamos e prometemos para o Distrito Federal.
Uma preocupação é com o retrocesso que significará manter o apego a obras civis como símbolo de bom governo. Ao chegar aos cem dias, o governo Agnelo parece ter como compromisso central de sua marca a construção do novo Estádio Mané Garrincha, o VLT – Veiculo Leve sobre Trilhos e um túnel em Taguatinga, no mesmo estilo dos governos recentes.
Corre-se o risco do retrocesso de manter a mesma cara do passado, de fascínio pelas obras civis, mas que não representam a nova cara de um futuro fascinado pela qualidade de vida da população.
Na educação, será um retrocesso voltar à eleição simples do diretor da escola pelo voto, abandonando o sistema que combina eleição de diretores de escolas com uma avaliação do preparo do candidato.
Ao invés de retrocesso, o governo Agnelo precisa avançar, criando uma Escola de Gestão e implantando a democracia de eleições, entre os professores ou servidores que obtiverem o diploma de formado em gestão escolar. Ouvindo, além dos professores e servidores, também os pais, alunos e a comunidade em geral.
Não se deve retroceder tampouco abandonando o ensino de ciência com métodos que façam as crianças adquirirem não apenas conhecimento científico, mas também o gosto pela ciência, desde as primeiras séries do ensino fundamental.
O governo Agnelo foi eleito para desprivatizar o Estado. Eu próprio lhe sugeri que a primeira frase no discurso de posse deveria ser: “Brasília não está mais à venda”. Mas desprivatizar não é o mesmo que estatizar.
Há muitos setores nos quais a combinação transparente, sob controle popular, entre Estado e gestão privada por empresas, ONGs, associações ou cooperativas, pode ser a melhor maneira de servir ao público.
Hospital público não é necessariamente aquele que pertence ao Estado. É aquele onde não há fila para entrar, não se sai dele antes de ser atendido, com respeito, carinho e competência e não se paga para sair.
Para isto, há muitas experiências no Brasil de hospitais administrados com eficiência empresarial, a serviço do público, sob controle do usuário. O governo Agnelo tem dado sinais de gosto pela estatização, mais do que pela publicização, este é um risco de retrocesso.
Será retrocesso se no lugar de implantar o verdadeiro horário integral, conforme compromisso assumido na campanha, o governo suspender ou desprezar o sistema já implantado. O sistema em vigor é muito insatisfatório, mas é preciso avançar e não regredir.
O avanço é levar adiante o compromisso assumido pelo governador na campanha de implantar o verdadeiro horário integral em todas as escolas, por cidades.
Outro risco de retrocesso é o uso intensivo de propaganda do governo, mostrando ações nem sempre totalmente verdadeiras, ao invés de utilizar a mídia para a promoção de serviços públicos como parte do processo educacional da massa, como foi feito na implantação da faixa de pedestres.
Talvez o risco de retrocesso seja o resultado da falta de definição de uma cara nova. Isto ocorre quando a política fica subordinada aos interesses e pessoais de deputados distritais apegados a cargos, mais do que aos objetivos de interesse público. Este é um retrocesso cujas conseqüências já são conhecidas por fatos recentes. Nós ganhamos as eleições por causa do compromisso de parar o atraso e realizar o avanço. Não podemos deixar que ocorra retrocesso.
Pelo menos alguns dos que ajudaram a eleger o governo devem fazer os alertas, até porque desejam que este governo dê certo, como prometemos aos eleitores. Embora, para governos que preferem a bajulação, possa parecer o contrário, estes alertas contra o retrocesso são a melhor maneira de contribuir para que o governo dê certo, cumprindo seus compromissos, em direção ao “novo caminho” prometido.