O Brasil perdeu o terno e sincero José Alencar. Tinha espírito público. Desmistificou o câncer, falando abertamente, entrando e saindo sorridente do hospital.
Fomos colegas de Congresso. Admirava o homem vitorioso que, a partir de uma vendinha no interior de Minas, construiu um império industrial, gerando empregos e trabalhando pelo País.
Poucos enfrentaram a morte como ele. Morreu com a coragem de quem vivia com paixão.
Discordávamos sempre que exigia rebaixamento de juros por decreto, ignorando dificuldades fiscais e até questões internacionais. Pouco falava em reformas e na gastança pública. Não aceitava que as taxas elevadas de juros são efeito e não causa de males e vícios acumulados na economia.
Reformas estruturais e redução drástica dos gastos de custeio levariam a mais investimentos e, aí sim, a crescimento forte e contínuo com inflação baixa. A percepção deficiente do governo poderá punir 2011 com inflação de 7% e complicar 2012.
Quando Leonel Brizola faleceu, Alencar era presidente interino. Convidou os líderes parlamentares a integrar sua comitiva aos funerais no Rio Grande. Percebi que sabia distinguir adversário de inimigo. Aceitei o convite.
Dormi pouco na noite anterior. Começava a repor as energias, quando fui chamado à cabine presidencial. Alencar queria discuitir declarações minhas sobre Economia com sua disposição jovem de debatedor.
Cochilei durante a conversa. Recebi cutucão sorridente: “Nada disso! Temos muito a falar”. E recomeçava tudo, eu morto de vergonha pelo vexame, ele bem vivo, defendendo suas crenças.
Errava, tinha defeitos. Possuía virtudes: era franco e generoso.
Um brasileiro.