Por Osíris Silva:
No estudo “El agua, recurso estratégico del siglo XXI”, a professora Ruth Marina Agudelo, da Universidad de Antioquia, Medellin, Colômbia, afirma que a crescente demanda de água indispensável para a agricultura, a indústria e o consumo doméstico gerou enorme competição pelo escasso recurso hídrico. Observa que 70% da superfície da Terra é constituída de água, porém sua maior parte é oceânica (salgada). Apenas 3% é de água doce, que, em sua maior parte se encontra em forma de calotas polares e glaciares. Talvez menos de 1% seja de fato água doce superficial, facilmente acessível. Volume que se encontra em lagos, rios e a pouca profundidade do solo para uso de todos os habitantes do Planeta.
No Brasil concentram-se 12% da água doce do mundo. Mas, mesmo abundante, essa água é distribuída de forma irregular. Por exemplo, a Amazônia, com as mais baixas concentrações populacionais, possui 80% da água superficial. Já a região Sudeste, com a maior concentração populacional do país, tem disponíveis 6% do total da água. No País, apenas 82% das pessoas têm acesso à água tratada. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, MMA, 13 milhões de residências não recebem água encanada. Além do mais, a qualidade dessa água muitas vezes está comprometida devido à poluição de rios e igarapés e à degradação de nascentes e áreas florestais.
Para ter uma ideia, das 100 maiores cidades do Brasil, apenas 49% possuem coleta de esgoto e, destes, só 39% é tratado antes de retornar aos rios – o que é um grave problema para a saúde das águas e da população. Ou seja, para cada 10 litros de esgoto que são produzidos, apenas cinco litros são tratados. De acordo com o Instituto Trata Brasil, no Ranking do Saneamento nas 100 Maiores Cidades, em 2013 mais de 5 mil piscinas olímpicas de esgotos não tratados foram despejados por dia na natureza. Das 27 capitais brasileiras 19 delas tratam menos de 50% do seu esgoto. Manaus, com apenas 10,4% encontra-se entre os piores índices de atendimento de esgoto nesse ranking.
A falta de água potável é uma dura realidade em vários países. Hoje, 768 milhões de pessoas não têm acesso à água tratada e 2,5 bilhões não possuem condições sanitárias adequadas, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Outro agravante é que a população humana no mundo só aumenta, assim como as atividades de consumo que utilizam o recurso, como a produção extensiva de alimentos. Estima-se que a cada 20 anos o consumo mundial de água duplica. Assim, em 2030, a população global vai necessitar de 35% a mais de alimento, 40% a mais de água e 50% a mais de energia para sobreviver em condições adequadas, de acordo com a ONU. Até 2050, aproximadamente 45% da população não disporá da quantidade mínima de água necessária à vida.
Não adianta esforços de governos e organizações não governamentais se a população não é educada para compreender o problema. A poluição de rios e igarapés, notadamente no Brasil configura crime ambiental cometido coletivamente a cada segundo do dia, da semana, do mês, do ano. A única chance de corrigir tal distorção é por meio de amplo e abrangente programa educacional que conscientize a sociedade quanto a importância e a necessidade de cuidar dos mananciais e seus cursos.
Estudos das Nações Unidas recomendam observar que a aparente abundância de água não pode ser confundida com permissividade no tocante à desperdício com poluição, perdas durante o abastecimento ou uso descontrolado. Impõe-se uma ação conjunta entre população, governos e todos os setores da sociedade para manter a qualidade e quantidade de água potável disponível para uso da nossa e das gerações pósteras. O nível de bom atendimento das residências de água encanada e rede de esgoto é garantia de boa saúde para a população. A cada dólar investido em saneamento economiza-se quatro dólares em saúde pública. Lamentavelmente a população não tem essa informação.