Academia abre portas para Almino Affonso

Natural de Humaitá, novo imortal da AAL é dono de extensa trajetória na vida pública

Reproduzido de A CRÍTICA, por JONY CLAY BORGES

Affonso assume nesta terça (29) a cadeira de nº 15, de patrono Graça Aranha (Ney Mendes)

Filho do Amazonas que se tornou uma figura pública de renome nacional, Almino Monteiro Álvares Affonso toma posse na Academia Amazonense de Letras (AAL) em cerimônia na sede da instituição nesta terça-feira (29), às 20h.

Ele ocupa a cadeira nº 15, que tem Graça Aranha como patrono. Aos 82 anos e dono de extensa trajetória na vida pública, o advogado, político e escritor revela muita humildade e gratidão à sua terra natal ao falar sobre sua eleição para a Academia.

“Somos um povo generoso, e minha eleição é uma prova a mais disso. Entenderam de achar que eu tenho qualidades para participar da Academia. Tenho minhas sérias dúvidas. Mas não poderia deixar de aceitar algo que tem um significado muito especial para mim”, afirma o novo imortal, bem humorado, em entrevista a A CRÍTICA.

Há muitos anos vivendo em São Paulo, ele se diz ligado ao cenário da cultura e das letras do Estado: “Acompanho a vida cultural da cidade, a evolução da Academia, as novas obras que surgem. Eu me sinto em casa pela relação do afeto”.

Trajetória

Nascido em Humaitá (a 600 quilômetros de Manaus) em 1929, Affonso estudou no Colégio Amazonense D. Pedro II antes de ingressar na Faculdade de Direito do Amazonas, em 1949.

No ano seguinte, ele se transferiu para a Faculdade de Direito de São Paulo, onde se formou em 1953. Daqui, levou a paixão pela literatura e ideais que marcariam toda sua trajetória posterior.

“Foi aqui que aprendi a admirar a luta em defesa do monopólio estatal do petróleo”, conta. “E onde aprendi também a gostar de ler e escrever”.

Affonso começou sua vida política também no Amazonas: em 1958, aos 28 anos, foi eleito deputado federal pelo Estado. Quatro anos depois, foi reeleito com a maior votação já alcançada à época em eleição proporcional.

“Foram dois presentes que o povo do Amazonas me deu”, declara. “Minha história com o Amazonas é tão profunda que às vezes me pergunto por que tanta generosidade”.

Em 1963, Affonso se tornou ministro do Trabalho e Previdência Social do Governo João Goulart. No ano seguinte, cassado pelo Golpe Militar, exilou-se e viveu por 12 anos na antiga Iugoslávia, Uruguai, Chile, Peru e Argentina.

Nos primeiros meses, ele, a esposa Lygia e os filhos – entre eles Sérgio Britto, que depois faria parte do grupo de rock Titãs – se mantiveram com a ajuda pessoal de amigos. Ele se orgulha de nunca ter tirado proveito de sua atividade política.

“É algo de que não se ouve falar muito hoje”, ressalta. Anistiado, Affonso voltou ao Brasil em 1976, e desde lá ocupou vários cargos públicos, como o de vice-governador do Estado de São Paulo e o de conselheiro da República, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Prosa e poesia

Affonso é autor de mais de uma dezena de obras, entre biografias, coletâneas de discursos e livros de poesia. Dentre as primeiras, ele destaca “Comendador Monteiro – Tronco e raízes”, que narra a trajetória da família do fundador de Humaitá, na região do rio Madeira, e “Almino Affonso – Tribuno da abolição”, que conta a vida de seu avô, notório abolicionista.

“Minha história é vinculada às causas sociais no meu País. Tenho certeza de que herdei isso dele”. Na poesia, Affonso é autor de “Versos d’água doce”, que em breve ganhará uma nova edição da Valer.

A obra traz escritos da juventude que o escritor hesitava em publicar, até ser convencido pelo colega Tenório Telles. “Eu considerava que não era um poeta realizado”, alega. Hoje, Affonso se dedica a um novo livro: “João Goulart – Uma revisão da História”, em que revê o golpe de 1964.

“Há muita coisa deformada sobre a época, a começar pela personalidade do presidente João Goulart”, adianta.

Participação

Affonso considera que a AAL mudou muito da época de sua juventude até hoje. “Minha lembrança era de um cenáculo. Era fantástica, mas muito fechada”, diz.

“Hoje você sente a Academia aberta”. Anos após receber da mesma AAL a Medalha do Mérito Cultural Péricles Moraes, Affonso se orgulha de se tornar membro da instituição, e espera contribuir ao máximo para com ela: “Quero vir sempre a Manaus participar das reuniões, dentro das limitações de uma vida desgarrada da minha terra”.

Da luta pelo petróleo à vida política

A adesão à luta em favor do monopólio estatal do petróleo foi, segundo Almino Affonso, um de seus primeiros passos em direção à política.

“Isso me marcou de tal forma que diria que minha vida política nasce dessa luta. E isso eu aprendi no Amazonas”, ressalta ele. “Para se ter desenvolvimento econômico, é preciso ter domínio do petróleo. Hoje se fazem guerras pelo petróleo. Já era assim também naquela época”, recorda.

A questão polêmica, que contrapunha líderes militares, estudantes e esquerdistas, a favor do monopólio, e figuras públicas favoráveis ao capital estrangeiro e contrárias ao controle estatal, fez nascer em Affonso um ideal de defender as causas em favor do País.

“De lá, fui percebendo a importância dessa problemática em relação às necessidades do povo brasileiro”, afirma Affonso. Para ele, a vitória do lado nacionalista, com a criação da Petrobras, em 1955, repercute até hoje.

“Se não tivéssemos realizado essa batalha naquela época, o pré-sal hoje não seria nosso, mas de empresas estrangeiras”, diz.

Um advogado que queria ser jornalista

Antes da política e da vida pública, Almino Affonso se dedicou a atividades jornalísticas.

“Muito mais do que ser advogado, quis ser jornalista”, confessa ele, que passou, entre outras, pela redação de A CRÍTICA.

“Fui contemporâneo de (Umberto) Calderaro no colégio D. Bosco. Minha relação com o jornal foi muito afetuosa. Isso me traz lembranças muito boas, e portanto sinto alegria de falar hoje com A CRÍTICA”.

One thought on “Academia abre portas para Almino Affonso

  1. Não dava para o nosso ALMINO, EX-GOVERNADOR DE São Paulo, ex-goleiro do Santos, ex-pracinha dos Bandeirantes, mostrar uma conta de luz paga em Manaus, ou um ticket de estacionamento do Aeroporto. Olha que eu não estou falando em Imposto Predial.
    Eu creio que o caboclo ARMINO reúne todas as condições para ser da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS.
    A mesma coisa para o carioca Bernardo Cabral.
    Dois caras espetaculares. Só têm um defeito em comum. Só ficavam em Manaus para ganhar emprego ( mandato) e no outro dia pegavam o avião e……….
    Ciao, bando de lesos.

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