O comandante da Polícia Militar (PM) do Amazonas, coronel Amir David, falou que a ação é desnecessária
A partir da meia-noite, os policiais intervém no funcionamento dos estabelecimento e expulsam os frequentadores dos locais. Foto: Gisele Rodrigues
Manaus – Frequentadores do Bar do Armando e Caldeira, no Centro de Manaus, denunciam ‘toque de recolher’ praticado pela Polícia Militar desde o início da Copa do Mundo. Segundo os torcedores, a partir da meia-noite, os policiais intervém no funcionamento dos estabelecimentos e expulsam os frequentadores dos locais.
Patrícia Petillho, 30, é moradora do Centro há 20 anos. Ela informou que os policiais usam da autoridade para expulsar os clientes.
“Na quarta-feira, eu estava com a minha família no bar do Armando, na Rua Dez de Julho, quando eles jogaram spray de pimenta em alguns torcedores para expulsá-los do local. Ficou todo mundo passando mal, a polícia chegou na agressão”, comentou. “Em outra ocasião, eles expulsaram com rispidez os ambulantes da área e nem sequer se preocuparam com os bens materiais dos comerciantes”.
Patrícia ainda falou sobre outros eventos no Largo São Sebastião como Carnaval e o projeto ‘Tacacá na Bossa’.
“No Carnaval, há ocorrências de brigas e furtos, mesmo assim, o evento vai até altas horas da madrugada. Aqui, está todo mundo em paz, sem outras incidências. Acho que o trabalho deles deveria ser mais de conscientização e não de repressão”, completou.
A professora Ana Lúcia Carvalho veio de Mogi das Cruzes para assistir o Mundial em Manaus. Ela disse que se sentiu constrangida com a ação policial no Bar do Caldeira, localizado na esquina entre as ruas José Clemente e Lobo D’almada.
“Estava todo mundo sentado, conversando e, do nada, eles chegaram e proibiram a venda de cerveja e encaravam a gente como se fossemos delinquentes. Fiquei muito constrangida com a situação”, disse.
“Acho desnecessário essa repressão. A forma como eles se portam, como acionar as sirenes para intimidar as pessoas, acaba reprimindo as pessoas que querem se divertir. Acredito que pode até causar uma má impressão pro turista ao ver uma cena dessas”, disse o estudante Bruno Tolledo.
O secretário-executivo de grandes eventos da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), coronel Dan Câmara, reconhece a ação da polícia, porém, o trabalho não está relacionado a coordenação e, sim, diretamente com o comando.
“Normalmente a polícia realiza o trabalho para garantir a segurança da população. Como o Centro foi potencializado no Mundial, o trabalho da coordenação, juntamente com o Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), é de manter a ordem durante os eventos de grande proporção como o ‘Public view’ do Largo São Sebastião, realizando um trabalho de apoio a Prefeitura de Manaus” disse.
O coordenador ainda falou sobre a venda de bebidas em garrafa no local. “O efetivo policial conversou com os donos de bares para que eles não comercializem bebidas alcoólicas em garrafas de vidro, visando sempre a segurança das pessoas que frequentam os bares, mas nós apenas realizamos a conscientização e não a repressão”, ressaltou.
Ação da Polícia
O comandante da Polícia Militar do Amazonas (PMAM), coronel Almir David, falou que a ação é desnecessária e se reunirá com o delegado do 24ª Distrito Integrado de Polícia (24ª DIP), Jorge Pontes, para evitar esse tipo de comportamento abusivo.
“Não há toque de recolher, o que acontece é um reforço da polícia na área do centro durante a movimentação da Copa. Os próprios estabelecimentos, em seu alvará, possuem um horário estabelecido de fechamento, nós não intervimos nisso”, afirmou.
No vídeo gravado na noite deste domingo (22), policiais aparecem em frente ao Bar do Armando, criando uma espécie de barreira. Os clientes apenas saem do estabelecimento.
“Como há este horário pré-estabelecido, o reforço da polícia é pedido pelos donos dos bares”, afirmou o coronel. “Houve o fechamento do bar uma vez, quando ocorreu um acidente de trânsito envolvendo um táxi e um turista. Só fui informado desta ocorrência, porém, averiguarei juntamente com o Delegado do 24ª DIP e a comandante do Centro Policiamento de Área (CPA) Sul, Márcia Chaves, para checar a situação desnecessária”.
O comandante ainda falou sobre a lei de bares no Estado e a grande incidência de drogas no Centro da cidade. De acordo com a lei de bares do Amazonas, todos os estabelecimentos devem encerrar suas atividades até meia-noite, salve os casos excepcionais e com o respaldo de segurança, estacionamento, além questão do som alto.
“Outra questão é a grande incidência de drogas no local. O tráfico circula em todo o lugar e precisamos estar sempre alerta para este tipo de situação”, completou.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Amazonas, Alberto Simonetti, disse que o ‘toque de recolher’ no Brasil é inconstitucional e que a Polícia Militar não tem a autoridade de fechar nenhum estabelecimento sem mandado judicial.
“Quando não há situação em que a força policial seja necessária, como briga ou outros tipos de ocorrência, o mesmo não tem direito de fechar estabelecimento sem apresentação de mandando judicial expedido pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJAM). Existe uma linha tênue no trabalho da polícia e sempre precisa ser verificado com clareza” disse.