Elio Gaspari
O vigor comercial da China não é um problema, é uma solução para o consumidor do andar de baixo
Alguns empresários e bolsões do governo brasileiro estão namorando uma irracional sinofobia. Se um produto ou serviço vem da China, cuidado com ele, pode destruir a economia nacional.
No lance mais recente, setores do governo mostram-se preocupados com a expansão dos chineses no setor de distribuição de energia.
Eles são sócios de três grandes concessionárias, donos de 6.000 quilômetros de linhas e acabaram de comprar por US$ 3,5 bilhões um pedaço da estatal portuguesa EDP, que opera em oito Estados brasileiros. A Eletrobras tentou ficar com o negócio, mas não teve bala.
Quem vendeu o patrimônio elétrico da Viúva foi o governo brasileiro. Se a Eletrobras não teve bala para competir, bala não teve.
Os chineses não compram distribuidoras de energia para fazer um “gato” ligando as turbinas de Itaipu a Pequim. Como todos os outros, querem fornecer equipamentos, e os seus são mais baratos.
Quando vendem-se empresas para europeus e americanos, é o jogo jogado. Quando é o chinês quem compra, há algo de estranho nisso.
Esse raciocínio embute um preconceito. Em agosto passado, o governo anunciou uma barreira para dificultar a importação de uniformes militares fabricados na China.
Uma voz do Comando da Amazônia disse que o “made in China” das etiquetas dos fardamentos causava “desconforto psicológico”. Se fossem “made in USA” causariam conforto? (O maior fornecedor das fardas era uma empresa brasileira com uma ramificação em Shangai.)
A China é o maior parceiro comercial do Brasil e em 2011 Pindorama vendeu para Pequim US$ 5 bilhões a mais do que comprou. Com os Estados Unidos ocorre o contrário, um deficit de US$ 7,9 bilhões.
A pressão protecionista do empresariado brasileiro vai em cima de produtos chineses tornados acessíveis para a patuleia: roupas, calçados, brinquedos e eletrodomésticos.
Se a indústria brasileira quer proteção, precisa oferecer desempenho e metas. Quanto tempo será necessário para fabricar camisetas mais competitivas? O ramo dos brinquedos pode sobreviver sem barreiras?
Industrial que troca eficiência por trânsito político para cavar barreiras tarifárias faz bons negócios para si. A Federação das Indústrias de Minas Gerais, por exemplo, contratou Fernando Pimentel para uma consultoria de nove meses por R$ 1 milhão.
O Império do Meio trabalha com outra agenda. Há poucos meses, o Ministério do Desenvolvimento, ocupado por Pimentel, comprou 400 aparelhos de ar refrigerado e pôs dois deles no gabinete do doutor. Todos chineses, sem consultorias.
Comentário meu: Tem razão o Elio Gaspari. Quem perde com esse protecionismo exacerbado contra os produtos chineses são as classes de menor renda.