Por Joaquim Falcão, no Blog do Noblat:
A ideia é aparentemente simples. Está se disseminando, como protesto democratizante, rapidamente por quase toda a Europa. É prima irmã dos protestos pela democracia nos estados árabes. Se como eleitor, o cidadão europeu não consegue mudar a política econômica, talvez como consumidor possa. Na Espanha, por exemplo, esta nova politização do consumo começa a ser testada. Ainda sem muito êxito.
Imaginem se num determinado dia milhões de pessoas resolvessem todos sacar de sua conta bancaria 100 reais. O sistema bancário começaria a ficar preocupado. Se milhões de consumidores resolvessem de tempos em tempos passar três dias sem usar cartão de crédito.
A semente na nova politização é justamente esta: imaginar novas formas de ação política além do voto. Não mais o eleitor, mas o consumidor.
O terreno fértil para esta politização não é a crise do sistema de aposentadoria, tornando-a mais difícil e com menores pensões. É, sobretudo, o alarmante desemprego do jovem.
Na Inglaterra o desemprego juvenil é de 20,5%. Na França, de 22,8%. Subindo para 27,8% em Portugal, 29,8% na Itália, chegando aos 37,3% na Grécia. Sem falar na Espanha também na casa de mais de 20%.
Se o jovem é o futuro, os jovens europeus não estão conseguindo construir nem os seus nem o de seus países.
A partir daí fica claro que o desencanto do jovem com a política não resulta de atitude egoísta individual. O desencanto é com a inutilidade do voto que muda governos, mas não muda a política econômica. É com o voto sem poder.
No último ano já mudaram os governos da Inglaterra, Grécia, Portugal. Provavelmente mudam o da França, Itália e Espanha. Mas a continuação dos problemas econômicos cresce. Se mudar de partido não resolve, mude-se o sistema político-partidário, acreditam.
Acresçam a este terreno fértil dois fatores. Primeiro, as mídias sociais, as novas tecnologias, tão indispensáveis aos jovens de hoje, e que tornam as mobilizações políticas instantâneas de massa possíveis. Daí inclusive um dos nomes destes movimentos na Espanha: Protestos 2.0.
Segundo, a liberdade de expressão como liberdade de acesso à informação. Os mecanismos financeiros que produziram a crise de 2008 são de conhecimento de todos. Seus principais responsáveis, também.
Os malefícios do descolamento do sistema financeiro do sistema produtivo perderam complexidade e mistério.
A CNN esta semana explicou a seus milhões de telespectadores, a política do banco central e governo americano de imprimir dólares para pagar o déficit, como se ensina uma criança um novo jogo. Colocaram dois ou três pequenos tapetes. Cobriram cada um com notas de dólares. Depois, enrolaram, eles e os dólares, um em cima do outro. “É assim que eles estão rolando a dívida. Escondendo-a como se esconde o que está em cima de um tapete que se enrola“, disse o apresentador.
Tornar a informação financeira compreensível a milhões de consumidores vale mais do que o discurso de qualquer político ou presidente de banco central.
Desemprego do jovem, mobilização tecnológica e crescente compreensão popular dos mistérios da política econômica e financeira, eis os ingredientes da nova politização européia.