Na década de 70, um soldado americano que havia sido condecorado na Guerra do Vietnã foi expulso das Forças Armadas quando descobriram sua homossexualidade. Ao comentar o episódio, ele produziu uma frase antológica: “Deram-me uma medalha por matar dois homens e uma expulsão por amar outro”.
A história da humanidade vem sendo escrita por meio da superação do preconceito, da progressiva inclusão e da proteção de todos. E, a cada tempo, as pessoas escolhem de que lado desejam estar.
É certamente possível julgar a questão da homofobia olhando para trás, buscando maneiras de justificar outras formas de preconceito já superadas. Mas é possível também olhar para frente e participar da construção de um mundo melhor e de um Brasil com cidadania plena, fundados nos direitos e no respeito aos diferentes.
Em busca de ampliar o consenso em torno de uma proposta de criminalização da homofobia, decidi, nesta semana, pedir o reexame do projeto de lei da Câmara 122, relatado por mim no Senado. Acredito que só a tolerância e a negociação vão permitir superar as divergências em torno do projeto.
Demos um passo à frente em uma batalha que ainda será longa. O debate na Comissão de Direitos Humanos, na última quinta-feira, foi um enfrentamento importante com as forças conservadoras.
Desta vez, a discussão foi mais respeitosa de ambos os lados, com maior participação de senadores. Notei uma mudança no discurso antagonista: mais na defensiva e buscando justificativas fora do projeto (como na utilização de símbolos religiosos em paradas gays, por exemplo).
Está cada vez mais difícil ter argumentos contra o novo texto. Ficou a impressão de que existe uma vontade, ao menos para uma parte, de superar a conjuntura terrível de mortes e violência homofóbicas que observamos nas ruas. Sentarei à mesa com todos os grupos imbuída da vontade de chegar a um entendimento.
A reunião na CDH também apontou pontos importantes e de difícil aceitação. Há mais de 20 anos a homossexualidade já não é mais considerada doença pela Organização Mundial da Saúde. Confusão desse tipo é inadmissível. Também o é relacionar pedofilia e homossexualidade -pedofilia é uma perversão e um crime.
Ouvi, na CDH, que não existe homofobia no Brasil, que o que existe é simplesmente violência. Mas todos sabemos que não se esfaqueia alguém nas ruas por ser deficiente ou ter Down, enquanto mata-se uma pessoa por ela ser gay. É o grito da rua que tem provocado o Congresso a se posicionar.
A violência continua, as minorias são violentadas, as discriminações persistem. O Brasil não pode ficar de fora desse progresso civilizatório. De nada adianta o discurso se não houver ação.
MARTA SUPLICY escreve aos sábados nesta coluna.