A confirmação da aliança PT-PMDB em Minas Gerais veio seguida de uma reação cínica e fria da grande mídia. Neste momento, os aliados de José Serra na imprensa querem encobrir um importante fato: a composição de apoio ao senador Hélio Costa reforça as condições de vitória de Dilma Rousseff. Afinal, desde 1950, só Getúlio Vargas conseguiu conquistar a Presidência da República sem vencer a disputa nas Alterosas.
Enquanto a candidata do PT cresce sem parar no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a diferença diminui no Sudeste, tornando-se especialmente ruim para o tucanato em Minas.
Há algumas semanas, a principal meta dos que hoje subestimam o potencial da aliança PT-PMDB era empurrar o ex-governador Aécio Neves para uma candidatura a vice-presidente.
Setores da imprensa paulista tentaram mostrar para o resto do país que José Serra tratava Minas com prioridade ao procurar seu colega de partido para a chapa presidencial. Porém, nada soa mais artificial.
É de amplo conhecimento que Aécio Neves passava longe dos originais planos presidenciais de Serra, mas isso foi minimizado em benefício do paulista.
O verdadeiro plano A do ex-governador paulista era compor chapa com José Roberto Arruda (ex-DEM), governador cassado do Distrito Federal, tendo como alternativa o senador Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE).
Diante do naufrágio do governo demo em Brasília e da consolidação da aliança PT-PMDB no plano nacional, a tentativa de uma chapa só com tucanos é, na verdade, um abraço de afogado a Minas.
O último grande lance da tentativa de viabilizar a chapa Serra-Aécio não poderia ser mais ofensiva e truculenta. Quando o esforço de arrastar o mineiro para o posto de vice estava prestes a fracassar, o PSDB paulista “planta” a notícia de que o empresariado brasileiro considerava antipatriótica a postura do ex-governador de Minas Gerais.
Os resultados começam a se tornar visíveis. A campanha ainda nem começou, mas os mineiros dão claros sinais de que perceberam a dissimulação de Serra. A base de prefeitos de Aécio Neves mostra fissuras em favor de Dilma Rousseff, o que deve se aprofundar até o final da disputa eleitoral.
A notícia não poderia vir em pior hora para o tucanato paulista.
Serra presencia a fragmentação de sua base de apoio em São Paulo, berço da frágil aliança oposicionista. Agora candidato ao governo paulista, Geraldo Alckmin mostra que dará o troco a Serra, que o abandonou na disputa presidencial de 2006.
Ao mesmo tempo, lideranças do DEM e do PTB declararam apoio ao petista Aloizio Mercadante em sinal de insatisfação com a indicação de Alckmin. Nem o prefeito paulistano Gilberto Kassab (DEM) mostra-se satisfeito e, pelo jeito, não vai apoiar o ex-governador que tenta voltar ao Palácio dos Bandeirantes.
Mesmo assim, o mais provável é que a situação em São Paulo continue com espaço menor na imprensa paulista. As maiores energias serão desprendidas para cobrir, de maneira enviesada, é claro, as conversas para a formação da chapa que apoiará Hélio Costa ao governo de Minas Gerais.
Fracassou a tentativa de construção de um palanque para Serra nas Alterosas. Agora, o jeito é fingir que a consolidação das alianças nacionais e em Minas em torno de Dilma são fatos corriqueiros de campanha. Mas não são.
José Dirceu, 64, é advogado e ex-ministro da Casa Civil