A eleição de Dilma Rousseff

O Brasil iniciou nesta semana um novo ciclo de sua história. E o marco dessa nova fase foi a eleição da primeira presidenta, a companheira Dilma Rousseff. A partir de 1º de janeiro de 2011, Dilma começa a conduzir sua gestão, que será marcada pela continuidade do projeto de país que deu certo com o Governo Lula, mas com a responsabilidade de promover diversas melhorias.

A vitória de Dilma, conquistada com 55,7 milhões de votos, foi fruto não apenas dos oito anos de gestão do presidente Lula e do seu apoio, mas da mais ampla aliança já feita no Brasil para eleger um presidente da República.

A coligação de dez partidos que deram sustentação a Dilma garantiu uma vitória no segundo turno com 12 milhões de votos a mais que a oposição do candidato José Serra. Os partidos aliados elegeram 17 dos 27 governadores e, ainda no primeiro turno, fez a ampla maioria no Congresso Nacional —375 dos 513 deputados na Câmara e 58 dos 81 senadores. Tamanha vantagem dará também a presidência das duas Casas Legislativas a partidos aliados —a tradição prevê o PT presidindo a Câmara, e o PMDB, o Senado.

Foi um resultado extraordinário, alcançado com o papel decisivo do PT, que pela terceira vez seguida foi o partido mais votado no país, elegendo cinco governadores, 88 deputados federais e elevando sua bancada para 15 senadores.

Mas a importância da vitória de Dilma está também na superação de uma campanha dura e longa, marcada pela estratégia de seu principal adversário, Serra, de abdicar da discussão política e programática para fazer um debate religioso, notadamente a partir do tema do aborto. A campanha do ódio feita pela oposição ignorou um dos pilares do Estado Democrático de Direito, que é seu caráter laico, de separação entre a Igreja e o Estado.

A central de boatos contra Dilma encontrou na Internet e na distribuição de panfletos em cultos religiosos seu terreno fértil, na tentativa de incitar no Brasil divergências de crença, algo impensável no ambiente de convivência pacífica entre credos que sempre prosperou no país.

A opção por esse tipo de campanha ficou clara no discurso de reconhecimento da derrota de Serra, cujas marcas maiores foram a mágoa e o ressentimento contra seus próprios aliados e companheiros de partido. Momentos antes, Dilma havia estendido a mão à oposição, em sinal de que, encerrada a apuração, ela se transformou na presidenta de todos os brasileiros.

Infelizmente, faltou generosidade e grandeza aos adversários de campanha, especialmente ao candidato derrotado —logo ele, que prometeu agir em prol da união nacional. Há indícios de que esse comportamento visceral será mantido no Governo Dilma, em evidente confusão entre o papel de demarcação de um projeto alternativo com uma atitude lesiva aos interesses nacionais.

Está em curso uma disputa interna aos partidos de oposição para definir qual linha irão adotar a partir de agora: manter um comportamento mais ferino, com vistas a sangrar o governo sempre que possível, com os mesmos tons inconsequentes e ultrapassados utilizados na campanha de Serra; ou deslocar-se para uma atuação crítica, mas construtiva.

Ainda assim, Dilma segue disposta a dialogar com a oposição. Primeiro, porque esteve durante toda a campanha voltada ao debate programático. Depois, porque sabe da importância de uma agenda que coloque o Brasil de vez na rota do desenvolvimento sustentável.

Dilma conquistou a maioria do eleitorado justamente porque mostrou que o longo caminho de mudanças, cujos pilares foram inaugurados no Governo Lula, só poderá ser percorrido com respeito, paz e esforço conjunto para levarmos o Brasil a um novo patamar de desenvolvimento.

Na agenda do próximo governo, estão: erradicar a miséria, com apoio das políticas sociais; reforma política; reforma tributária; investimentos pesados em educação, saúde, segurança e inovação tecnológica; crescimento com distribuição de renda; geração de novos empregos; acelerar as obras dos PACs 1 e 2; e ampliar a meta do programa “Minha casa, Minha Vida”.

Não podemos esquecer, igualmente, a importância de melhor a gestão e as contas públicas, ampliar os investimentos públicos e privados e enfrentar a grave guerra cambial que requer uma ação firme e articulada internacionalmente.

Essas medidas compõem a pauta inescapável do Governo Dilma, que será voltado, como a própria presidente eleita já afirmou, para a juventude. A prioridade com as próximas gerações inclui a preparação das nossas grandes cidades para receber a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, preparação que pressupõe superar graves e antigos problemas de habitação, transportes, saneamento, segurança, lazer e cultura. A composição do Ministério levará em conta essa pauta.

Que o Governo Dilma se inicie com a certeza de que o caminho a ser percorrido já começou a ser pavimentado e que a força e o sucesso do nosso país serão sustentados pela unidade de ação política, sempre ancorada no apoio popular.

José Dirceu, 64, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT