A Amazônia, o Neymar e o Urso

Por Alfredo MR Lopes (*) alfredo.lopes@uol.com.br:

Às vésperas da celebração do 5 de Setembro, Dia do Amazonas – que a desinformação da mídia passou a usar como o dia da Amazônia – o craque Neymar Junior, do Barcelona, bem orientado por seu publicitário (ou advogados que o defendem de sonegações milionárias? ) juntou-se à WWF para proteger a Amazônia, um manancial  de bom-mocismo que a floresta segue a oferecer. A fome com a vontade de comer, como se diz por aqui.  Sarah Hutchison, da direção geral da Ong, em Londres, na festa de lançamento, resumiu a façanha ao dizer da preocupação com iniciativas do Brasil para promover  o aproveitamento de suas riquezas minerais, a energia renovável das barragens “…e outras infra-estruturas em larga escala arriscando o futuro da floresta tropical”. Por que outros motivos a WWF, Fundo Mundial para a Natureza e a UICN, União Internacional para a Conservação da Natureza, Ongs financiadas por corporações britânicas (como a Shell, ICI, Cadbury, National Westminster Bank e outras), fundações “filantrópicas” americanas  (Rockefeller, Ford, MacArthur) e instituições governamentais como a USAID, velha conhecida, estariam assim tão preocupadas com a Amazônia? Nos anos 70, a Paranapanema se meteu a explorar cassiterita no Amazonas e quebrou mineradoras e financeiras britânicas. E quando  o Amazonas começar a explorar silvinita, suspendendo a importação de 85% do potássio que o Brasil compra  das corporações anglo-americanas, o que ocorrerá? Não é porque alguém se dizer paranoico que as pessoas vão deixar de persegui-lo, diriam os psicólogos anarquistas de Berkeley.

Neymar e WWF  batem às portas de Paris, da Conferência do Clima, onde as Ongs vão pedir que os poluidores paguem taxas pelas emissões de carbono mas ninguém promoverá  o repasse dessa dinheirama para projetos inteligentes na Hileia, onde parte significativa das 25 milhões de pessoas apresentam IDH africano. A Amazônia precisa de cientistas e projetos econômicos consistentes para gerar recursos suficientes  para proteção e promoção social. E quem ganhará com isso é a floresta. Ou  há outro meio de  promover  pessoas e proteger a natureza que não sejam recursos materiais dos empreendimentos racionais? De quebra, vamos  cobrar da WWF, do Neymar e dos demais oportunistas, o pagamento do uso  de imagem e dos serviços ambientais que a floresta tem oferecido gratuitamente.  De que mais a Amazônia precisa? De  mais mais gestores, que promovam mais pesquisas, fomentando o talento dos cientistas – só temos 500 em atividade  e mais da metade com o prazo de validade comprometido pelo cansaço dos anos. Só assim, vamos descobrir e avançar o desenvolvimento da evolução das espécies a favor do Brasil e da própria Humanidade.

Um desafio extraordinário que Charles Darwin e Alfred Wallace – visionários  ingleses que coletavam espécies na Amazônia, sem pagar royalties – e que  descobriram o Vale da Biotecnologia, no século XIX, com a apropriação dos genomas das plantas e dos animais que escondem a espetacular e lucrativa  fórmula dos bionegócios. Eles anteciparam  a nanoengenharia biomolecular com a solução das doenças, da dermocosmética, da nutracêutica para mitigar a fome da eterna juventude que move a condição humana. Com a tecnologia da informação que se desenvolveu a partir do Vale do Silício, no século XX, a nanotecnologia concretizou a utopia dos Atomistas, os pré-socráticos  que eram chamados de alucinados há até bem pouco tempo. Os dois Vales se encontram aqui para  pesquisa em ciência, engenharia e desenvolvimento tecnológico em nanoescala, a bilionésima escala do metro e de zilhões de benefícios.

Hoje a Fucapi, com um portfólio arrojado de inovação, e o ISI do Sistema Senai de Inovação, com seus bio-sensores de microeletrônica  já poderiam estreitar parcerias de P&D com as pesquisas em desenvolvimento no INPA e na Embrapa, nas calhas dos rios com as unidades de qualificação acadêmica da UEA e UFAM, desabrochando os negócios  dos biopolímeros, das enzimas. Isso vai  “bombar” as atuais plantas industriais do PIM e provocar uma diversificação bem mais  estonteante que os dribles do Neymar com a bola e a Receita, e mais competente que a capacidade dos ingleses em  fazer de um amigo urso seu faz-de-conta ambiental.

(*) Alfredo é filósofo e ensaísta